Resenhando Northlanders: The Return of Sven (Brian Wood, Davide Gianfelice e Dean Ormston)

Na obra-prima do francês Emmanuel Carrère, “O Reino(Alfaguara, 2016) ao reconstituir as origens do cristianismo, o autor afirma que quando o cristianismo chegou à Europa, principalmente à Grécia, ninguém mais acreditava nos deuses greco-romanos. O cristianismo teve um impacto porque foi compreendido como uma filosofia religiosa e mística em comparação com os contos folclóricos aos quais Zeus e os deuses antigos foram reduzidos.

Algo semelhante ao que ocorre atualmente, quando muitos reduzem as crenças cristãs ao folclore, abraçando religiões onde a espiritualidade é o foco. Um entendimento que demonstra que o ceticismo e o espiritualismo sempre existiram no coração dos homens, sendo a dúvida de acreditar tão importante quanto a dúvida em que acreditar.

Brian Wood ao escrever Northlanders desenvolve uma narrativa que tratam dos Vikings, mas também de suas relações com o resto do mundo conhecido, com especial interesse nas transferências religiosas da época.

Os homens do Norte estão em voga, lembrando de séries como Vikings, O Último Reino, Vinland Saga, nas quais a ficção traz os detalhes da época em que o norte da Europa viveu os dias de glória dos escandinavos. Wood escreve uma narrativa que usa da história europeia medieval enquanto desfruta de inúmeros novos dados. Mesmo não sendo tão requintados ou avançados como outros povos do período, há uma história que merece ser contada.

Resenhando Northlanders: The Return of Sven (Brian Wood, Davide Gianfelice e Dean Ormston) – Ambrosia

E no primeiro volume da série, The Return of Sven, o roteirista nos presenteia com duas histórias; a de um viking que no final do século 10 retorna à sua terra natal, ao norte da Escócia, após servir como mercenário em Constantinopla; e a de um menino que vive os primeiros anos do cristianismo no que viria a ser a Inglaterra, na época dos saques indiscriminados dos vikings, no século 8.

São narrativas cheias de ação e emoção, que fazem o leitor querer saber a todo momento o que vai acontecer a seguir. Segue a linha épica com cenas bem cruas e fatais, ao mesmo tempo que traz inúmeras informações sobre a época e seu povo.

Nortistas

A primeira história de Northlanders, The Return of Sven é o clássico retorno do herói que deu as costas à sua terra natal, um retorno com uma única intenção de reivindicar uma herança para desaparecer novamente, mas que no final o protagonista acaba se reconectando com sua cultura. Bom que Brian Wood consegue se distanciar do caminho pré-estabelecido para que a narrativa não acaba se tornando o retorno típico do herdeiro exilado, oferecendo muito mais, com personagens mais complexos e orbitam inexoravelmente a desgraça.

O roteiro de Woods é espetacular, pois consegue transformar o que pode parecer um simples drama de vingança em algo muito mais. Ele fez seu dever de casa e isso transparece no diálogo, particularmente na narração de Sven sobre o que é ser um Viking.

Resenhando Northlanders: The Return of Sven (Brian Wood, Davide Gianfelice e Dean Ormston) – AmbrosiaPara tanto, Wood tem o traço de Davide Gianfelice, que faz um trabalho mais do que correto, embora um realismo pudesse ser mais apreciado, fica um estilo meio cartoon, mas vada página é um campo minado de sangue, paisagens e texturas fantásticas.

A segunda história, nos leva a Lindisfarne, sobre o saque de um dos primeiros e mais importantes mosteiros da Inglaterra, tudo sob o ponto de vista de uma criança que se revela contra o cristianismo adotado por seu pai, buscando consolo nos antigos deuses nórdicos de sua mãe.

Aqui, Wood narra rápido, como um flash de violência. Para estas páginas, temos o desenho de Dean Ormston, que orna tanto para figuras históricas quanto para a atmosfera cinzenta e misteriosa do norte da Europa.

Resenhando Northlanders: The Return of Sven (Brian Wood, Davide Gianfelice e Dean Ormston) – Ambrosia

É importante destacar o trabalho de cores de Dave McCaig, que melhora em muito o traço de seus colegas. Sven the Returned definitivamente vai te deixar viciado e dá vontade de reler regularmente esta série incrível.  Uma série que merecia uma atenção das editoras brasileiras.

Que Brian Wood apresente mais histórias para nos ensinar o que era ser um viking há cerca de mil anos.

Nota: Excelente – 4 de 5 estrelas

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