Quem se lembra dos Novos 52, sabe que nem tudo foi erros. Séries como Hawkman ou Deathstroke ou ainda Young Titans criaram uma sombra para aquele período, mas também algumas séries brilhavam com sua própria luz, como Animal Man e na série regular da Liga da Justiça um personagem não demorou muito em atrair a atenção dos fãs numa série.
O protagonista: Shazam (o Capitão Marvel da DC Comics). Seus autores: Geoff Johns e um espetacular Gary Frank. Objetivo: revitalizar uma clássico, esse personagem que faz parte da história dos quadrinhos americano, para os novos tempos. E sem dúvida, o objetivo foi totalmente cumprido.
Depois que os eventos do Renascimento DC e várias séries foram relançadas, mas Shazam foi um dos títulos esquecido. Levaria alguns anos até que a editora, contando com o mesmo roteirista que já cuidava de seu destino nos Novos 52, anunciasse uma nova série solo do Capitão. E para acompanhar Johns nesta aventura, Dale Eaglesham foi designado como artista responsável.
Recentemente a Panini trouxe a primeira edição da série, que traz as edições 1-2 do título original, onde o bom Shazam novamente desfruta de um título regular, para continuar suas aventuras no local exato onde Johns saiu durante os Novos 52.
A série recebeu, injustamente, desde que foi publicada, o adjetivo infantil. A conotação pelo qual o adjetivo é aplicado não se justifica. Infantil está ligado à infância, um período mágico em que tudo é possível, onde a ingenuidade, a esperança, a ilusão, o desejo de descobrir, apreciar e aprender não têm limites.
A imaginação é fértil e saudável, a sinceridade e a felicidade são sinônimos para o que é chamado de infância e, portanto, quem está nele é considerado infantil. Vejo esse fase da vida com honra. E, pegando a classificação dada para o titulo, concluímos que essa série, esse Shazam não é infantil, nem juvenil, nem adulto, é tudo de uma vez, porque essa é a sua verdadeira essência, e o que foi clássico ganha.
O talento de escrever do autor não deixa dúvida, mas o que Johns em buscar essa essência é a sua capacidade de aproximar os personagens dos leitores de uma maneira aberta e honesta. E é o que encontramos da primeira à última página deste volume. O autor entende perfeitamente o que o personagem incorpora.
Ao mesmo tempo que mantêm as características do Capitão Marvel clássico também incorpora o novo. Nos anos 1940 foi a série mais inovadora e ousada no mercado, tínhamos viagens dimensionais temporárias, inimigos de aparência tola, mas de enorme letalidade … E é isso que resgata para o Capitão ou falando melhor Shazam.
Uma história de crianças e adolescentes numa família no sentido mais amplo da palavra, sem cair no tradicional, que vivem aventuras graças aos poderes concebidos pelo velho sábio da Rocha da Eternidade para Billy Batson. Ali temos a simplicidade das ações dos personagens, Batson é forçado a ser responsável, por se tornar adulto, enquanto ver o mundo de forma adocicada e sem preconceitos.
O autor foca nos personagens heróis numa história de esperança, amizade, ilusão e diversão. Quem lembra de O Poder da Esperança de Paul Dini e Alex Ross? O atual roteirista traz esse sentimento, pois o personagem é esse farol, a luz do universo DC, não é Superman, nem Lanterna Verde. Uma metáfora para esse momento de transição quando a infância é esquecida e vem a incerteza da adolescência começa, para depois chegar ao mundo ameaçador, carregado de sentidos duplos, que é o adulto.
Brilhantemente, Johns expande o que já tinha feito nos Novos 52. Explora os campos oníricos, intrínseco à infância, dos mundos mágicos, numa jornada que se inicia no Reino da Diversão e terminará irremediavelmente, através das diferentes áreas do vasto mundo sobrenatural que envolve o mito que o Shazam incorpora.
Na arte, temos temos Eaglesham, um desenhista com um traço clássico, dinâmico, com uma composição perfeita sobre a figura humana, um deleite visual na primeira história (Shazam #1US). Na segunda (Shazam #2US) temos Marco Santucci, um desenhista que emula Eaglesham, mas que em alguns aspectos supera o anterior, em especial os detalhes. De certa maneira, a série tem bons artistas em capturar a magia que se inicia nesta série.
Uma nova série, bem dinâmica, que recomendamos, cuja maior falha é o uso de dois desenhistas para tão poucas edições, mas é feita de maneira visualmente bem composta, com uma narrativa que traz aquela época em que heróis e heroínas encarnavam a esperança de um mundo melhor. Recomendo!
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