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A nova revisão de D&D?

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Desde que a linha Essentials de D&D foi anunciada, iniciou-se uma grande discussão sobre o que ela representava para o sistema. Apesar da empresa afirmar que ela serviria unicamente como material introdutório para iniciantes e que o esperado é que eles evoluíssem para a linha principal com o tempo, vários jogadores questionaram se isso não seria uma revisão do sistema. E isso gerou uma grande discussão. Designers, autores, blogueiros conhecidos, profissionais da área, fãs, todo mundo tinha uma opinião sobre o assunto. Provavelmente foi a questão mais comentada de D&D nesse último ano.

Os livros da linha começaram a ser lançados e as pessoas se acalmaram. Mesmo seguindo um modelo diferente e simplificado, a Wizards of the Coast continuou a dar suporte para o material da linha principal e as regras, na sua maior parte, eram mais uma errata do que uma alteração completa. Entretanto, outra notícia voltou a preocupar os fãs. Foi prometido que o modelo de apresentação do Essentials passaria a ser o padrão para os futuros produtos. Mas o que a WotC queria dizer com “modelo de apresentação”?

Com o começo dos previews do futuros lançamentos, é possível entender o que isso significa. No artigo da coluna Ampersand de novembro, Bill Slavicsek mostra um preview do que será o suplemento Class Compendium: Heroes of Sword and Spell (link). A propaganda divulgada até esse preview, era que o livro serviria para mostrar uma versão ‘atualizada’ das classes do primeiro Livro do Jogador. Usando o tal ‘modelo de apresentação’ das classes Essentials. Nesse primeiro preview é mostrado como vai ficar a classe Guerreiro nesse novo padrão.

A primeira grande mudança é que o antigo Guerreiro parece agora seguir o modelo de subclasses do Essentials. Em vez de escolher jogar com um personagem dessa classe e então escolher uma estrutura (build) adequada, o jogador escolhe uma subclasse com algumas escolhas já definidas. Isso é muito parecido com o que acontecia no Essentials, com a significativa diferença que o Guerreiro do novo suplemento mantém uma distribuição de poderes num modelo de ‘sem limite’, ‘por encontro’ e ‘diários’. Além disso, o Guerreiro do primeiro LdJ agora é uma subclasse, assim como o Slayer e o Knight da linha Essentials.

Também é demonstrada uma preocupação em aumentar o material descritivo e dar mais explicações sobre o funcionamento dos poderes, tentando deixar as coisas mais claras e definidas, não somente no aspecto mecânico mas na sua representação no mundo de jogo. Ou, como tem sido apontado sobre o Essentials, parece que a cada três linhas de texto uma é descritiva.

Mecanicamente, o preview apresentado funciona de maneira muito similar ao Guerreiro antigo. Entretanto, ele mostra como esse livro (e futuros suplementos) vão tornar o primeiro Livro do Jogador cada vez mais desnecessário. E também como as novas classes passarão a seguir um modelo mais fechado, com opções mais definidas (e mais similares as edições antigas do D&D). Apesar da insistência da WotC em defender que isso não é uma revisão do sistema, fica cada vez mais claro que comprar o LdJ não vale a pena para quem quer se manter atualizado com as regras de D&D.

Então, esse é o ínicio da nova revisão do D&D? Estamos entrando na 4.5? Minha opinião atual é sim, estamos. No instante que os livros antigos ficam cada mais vez mais obsoletos e não me sinto confortável em sugerir que um iniciante tente comprar os antigos três livros básicos, fica claro que estamos evoluindo para uma nova edição. Apesar de ser possível continuar usando os livros antigos para jogar desde que adicionada a errata, fazer isso é um trabalho grande mais, quando comparada a facilidade em comprar novos livros que trazem o material mais atual.

É importante perceber que essa evolução não ocorreu da forma como muita gente esperava, entretanto. Muita gente argumentou que o Essentials é a 4.5. Discordo. Com as informações disponíveis até agora, a impressão é que a Essentials não é a 4.5. Se ela fosse, essa versão revisada do Guerreiro não teria poderes sem limite, por encontro e diários. Ele teria stances, como o Slayer e o Knight do Heroes of the Fallen Lands. O que não significa que a linha introdutória passou sem influenciar a linha principal. A maior quantidade de descrição, a tentativa de usar regras mais simples, a associação maior entre mecânica e os acontecimentos no mundo de jogo, isso tudo vai ser herança da linha de iniciantes.

Após a Essentials é que começa o D&D 4.5, através de livros que irão revisar o sistema e atualizar as regras antigas para o novo modelo. Para explicar esse pensamento, é preciso voltar um pouco no tempo. Antes do lançamento da 4e do D&D, a Wizards of the Coast lançou o Star Wars Saga. O sistema usava o d20 da 3e como base, com diversas alterações. Coisas como pulsos de cura, perícias simplificadas, listas de poderes a serem escolhidas em vez de progressão definida, os antigos testes de resistência passaram a ser defesas, etc. O Saga acabou servindo como espaço para testes de novas mecânicas, que mais tarde seriam utilizadas no D&D 4e. Até mesmo os desafios de perícias acabaram aparecendo nele, apesar de somente após o lançamento da edição atual de D&D.

Considerando as mudanças mostradas até agora, a forma como o guerreiro foi revisado e o que parece ser o novo modelo da WotC para o sistema, acredito que a Essentials teve a mesma função. Ele trouxe uma série de modificações e experimentos mecânicos. Assim como aconteceu no espaço entre o Saga e a 4e, o que os designers consideram ter tido uma melhor recepção pelo público vai ser mantido. O que gerou muitas críticas, vai ser abandonado. Fazendo do Essentials uma linha de testes para as regras da 4.5. O único produto da Essentials que considero que trouxe atualização pro sistema e poderia ser considerado parte da nova edição seria o Rules Compendium, mas apesar de ser parte da linha para iniciantes ele sempre foi vendido como um livro de interesse também para os veteranos. E além disso, com a prática da WotC de realizar erratas rotineiras me pergunto por quanto tempo ele vai continuar válido.

E para quem conhece D&D a mais tempo, não é possível dizer que isso é algo inesperado. A mudança para a 3.5 ocorreu após três anos do lançamento da 3e. Em praticamente o mesmo espaço de tempo vai ocorrer a mudança da 4.0 para 4.5 (considerando que o Heroes of Sword and Spell seja o primeiro livro da nova edição). A pergunta agora é, a 5e sai quando? Daqui a 5 anos, como foi entre a 3.5 e a 4e?

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13 Comentários

  • Opa! Quando eu disse isso há alguns meses me chamaram de troll!

    Até que enfim alguém admitiu! Estava com aquela estranha sensação de ser o único a ver o rei nú!

  • O pessoal daqui tem essa impressão que a TSR era essa empresa maravilhosa que respeitava os clientes, os empregados e o 'verdadeiro RPG'. Impressão, porque na prática era bem diferente. A TSR era famosa lá fora por coisas como perseguir autores de sites sobre o jogo (mandando fechar fansites que não ofereciam qualquer conteúdo pirata ou nocivo ao jogo) e tentar prejudicar ex-empregados (como processar sem base Gary Gygax depois da saída dele da empresa, para evitar que ele pudesse produzir um novo jogo).

  • Estou longe dos "D&D 's" faz um bom tempo e pelo visto foi uma escolha acertada. Prefiro ficar no meu GURPS que não tem edição nova faz tempo, mas nem por isso é ruim, pelo contrario!

    E além do mais no Brasil temos Old Dragon, Mighty Blade, e sempre tem algum sistema novo surgindo… D&D dos EUA, da Wizards of the Coast para que?!

  • Acho que todo esse murmurinho sobre 4.5 é bobagem. A wizards quer conquistar novos jogadores e se ela lançar uma versao 4.5 vai afastar muitos jogadores e gerar um total receio em uma suposta verão 5.0, ja que todo mundo vai ficar esperando a 5.5 e ignorar a 5.0. Tiro no pé total !

    Outro motivo que me faz pensar que não há uma versão 4.5 é que o sistema é muito flexivel. As regras estão em sua maior parte nas classes e não no nucleo do jogo em si. A exemplo dos psiconicos, eles indroduziram uma mecanica totalmente nova sem mudar nada no core.

  • E aí está a jogada da WotC. Ela nunca vai dizer 'é a 4.5'. Ela primeiro testou algumas mecânicas diferentes com o Essentials. Agora após ele, ela anuncia que vai lançar livros com versões 'erratadas' das classes antigas. Só que essas erratas já incluem diferenças no material que vão além de erratas (como a nova classificação do guerreiro básico em um tipo de subclasse).
    E ela provavelmente vai liberar a maioria dessas alterações por meio de erratas. Em teoria, você não precisaria comprar livros novos então.
    O problema é, com o lançamento dessas versões 'erratadas' em livros próprios, fica cada vez mais difícil aconselhar um iniciante a comprar um Players Handbook 1. É muito mais fácil e prático pra quem está entrando no sistema pegar esses livros já revisados. No instante que a introdução ideal de um sistema deixam de ser os antigos livros básicos e passa a ser uma outra série de livros, eu acredito que entramos numa revisão.
    Nota que em nenhum momento eu digo 'pessoal mais antigo vai ter que comprar os livros novos'. Mas imagino que vai acontecer a mesma coisa que aconteceu com o Rules Compendium. Jogadores antigos não precisavam dele para jogar. Mas muita gente comprou porque é prático ter um livro com todas as erratas já incluídas no texto. E imagino que algo assim possa vir a acontecer com esses novos livros também.

  • eu não consegui ver essa diferença toda

    o Weaponmaster do Sword and Spell É o figther do PHB I só com as erratas, não tem mais NADA de diferente nele

    os livros antigos estão defasados enquanto erratas, mas fora isso ainda são totalmente funcionais

  • Pelo que li, at´pe agora, o Essentials deu uma acrescentada na quarta edição já existente. Como dito na própria matéria o guerreiro do PH1 agora é UMA das diversas, agora, possíveis. E se alinha essencial trouxe mais diversidade nas personalizações ao mesmo tempo em que introduz o novato nas masmorras em que os veteranos se encontram? Eu, particurlamente, achei uma jogada genial pela parte dos designers do jogo. Gosto da 4E, mas, deixo claro, não sou um fã violento da mesma.

    Para finalizar, gostei muito do artigo.

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