Dois homens esperam. Nada a fazer.
O Estragon quer saber: até quando? Hoje? O Vladimir não sabe. Talvez amanhã.
Mas o primeiro disse que estavam desde ontem, o que faz o segundo se confundir, e diz sem saber desde quando estavam ali, pois não anotou.
E se Godot já viera ontem, haveria de esperar amanhã? Disse o primeiro para o segundo.
O encontro certamente não haveria no ponto marcado.
A árvore é o ponto de encontro destes dois.
Em “Esperando Godot” o silêncio, as histórias, os sonhos e pesadelos noite após noite são negadas desdenhosamente pelo espirituoso Elias Andreato, que assume direção e o personagem que consegue obter presença com ação física ou ausência dela.
É notável o sabor pelo qual percorre o personagem contracenando com Cláudio Fontana, que busca ser agradável de maneira cambaleante e torna-se impertinente aos olhos do companheiro. E a todo momento parece que haverá um divisor de águas para o destino da convivência deles.
Como ranzinza formidável, Andreato submete Fontana às variações do humor, o Vladimir traz o deslumbramento da esperança em novidade, ecoa um amanhã, surpreende-se com o mínimo. Enquanto Estragon disseca a espera, prevê o depois e reclama do livre-arbítrio quando quer ser esquadrinhado por Deus, aceita a contragosto a humanidade em reconhecimento ao lado daquele com quem espera.
Juntos ao serem vistos por uma figura de homem vestido de branco e saia vermelha, de vocabulário enxuto, sem situação, diz palavras ocas com a mensagem de que o arrebatamento está na imagem que traz a estes dois à vista. O que porventura noticiaria sobre Godot, responde vagamente à curiosidade de quem é Godot: como ele trata a esta figura vazia, como ele responde às atribuições questionadas. Nesta passagem de palavras e somente palavras a espera de Godot seria a busca de uma contemplação seguida de proteção.
Entre estes dois, o Estragon e o Vladimir, há a separação, porque ambos são só e buscam realizar-se em companhia, mas seguir juntos haveria a expectativa de resposta para um ato e a decepção.
O Vladimir é desapegado dos bens materiais porque Vladimir lhe concede cenouras e este consagra a natureza de celebrar. Na relação os dois se fazem de condutores de uma farsa festiva quando têm a oportunidade de ver o lado do explorador e explorado, Pozzo e Lucky, consumindo-se internamente de vingança ou vantagens por maus tratos.
Com música indiana o espetáculo realiza no espaço o vazio existencial marcado pelo tempo.
“A vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e de fúria, sem sentido algum.”
Ficha Técnica
Esperando Godot
Texto: Samuel Beckett
Direção: Elias Andreato
Elenco: Elias Andreato (ESTRAGON), Claudio Fontana (VLADIMIR), Clovys Torres (LUCKY), Raphael Gama (POZZO) e Guilherme Bueno (O MENINO)
Figurino: Gabriel Villela
Assistente de Figurino: José Rosa Neves
Bordadeira: Maria do Carmo Soares
Produtora de Figurino: Clissia Morais
Cenografia: Fábio Namatame
Trilha Sonora: Jonatan Harold
Coreografia: Melissa Vettore.
Iluminação: Wagner Freire
Técnico de Luz e Som: Cleber Eli
Cenotécnico: Cláudioboi
Diretor Assistente: André Acioli
Assistente de Direção: Daíse Amaral
Fonodióloga: Edi Montecchi
Camareira: Ana Lúcia Laurino
Produção: DNA Produções Artísticas
Direção de Produção: Daíse Amaral
Produtor Executivo: Jefferson Pedace
Assistente de Produção: Paula Tonolli
Identidade Visual: Elifas Andreato
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
Programação Visual: Dib Carneiro Neto, Jussara Guedes e Suely Andreazzi
Fotos: João Caldas
Assistência de Fotografia: Andréia Machado
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