"A Bela e a Fera" preserva o encanto e a paixão da animação original – Ambrosia

“A Bela e a Fera” preserva o encanto e a paixão da animação original

De uns tempos para cá, a Disney descobriu mais uma fórmula mágica para gerar uma série de filmes que não só ajudaram ainda mais a fortalecer sua marca na categoria de entretenimento cinematográfico, como também colocaram alguns bilhões de dólares em seus cofres: as adaptações live action de seus próprios clássicos de animação. Assim, desde que foi lançada a visão de Tim Burton para “Alice no País das Maravilhas” em 2010, a casa do Mickey Mouse foi levando para a tela novas versões de “A Bela Adormecida” (“Malévola”, de 2014), “Cinderela” (2015) e “Mogli, o Menino Lobo” (2016). Os títulos foram muito bem de bilheteria, embora nem todos tenham sido uma unanimidade entre público e crítica.

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Mas o que mais chamou a atenção (e causou uma preocupação maior) foi quando a Disney anunciou que faria uma versão com atores de carne e osso de uma animação mais recente, que ainda estava bem fresca na memória do público e que fez história como o primeiro desenho animado de longa metragem a concorrer ao Oscar de Melhor Filme, em 1992. Afinal, os riscos de que a produção não funcionasse eram enormes, já que ela poderia sair bastante inferior e sofrer rejeição pelos fãs, que conservam intactos seu sentimentos em relação à obra.

Felizmente, não é isso o que acontece com “A Bela e a Fera” (“Beauty and the Beast”, 2017), que recria praticamente toda a animação e ainda adiciona mais elementos à história, sem perder a essência e (principalmente) a emoção que consagrou o desenho como uma das mais queridas versões do clássico romance.

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A trama praticamente todo mundo conhece: Numa pequena cidade no interior da França, vive Bela (Emma Watson), uma jovem que chama a atenção tanto pela beleza quanto por seu comportamento “estranho”, já que se dedica muito à leitura e não tem planos de se casar tão cedo, apesar das investidas de Gaston (Luke Evans), cobiçado pelas mulheres da região, mesmo sendo rude e grosseiro. Um dia, Maurice (Kevin Kline), o pai de Bela, descobre um misterioso castelo durante uma viagem e resolve pegar uma rosa de seu jardim para dar à filha. Só que o local é habitado por uma fera monstruosa e cruel (Dan Stevens), que o faz prisioneiro por ter ousado invadir sua propriedade.

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Preocupada com o desaparecimento de seu pai, Bela resolve procurá-lo e acaba chegando ao castelo, onde convence a Fera a trocar de lugar com Maurice. Aos poucos, a moça começa a descobrir os segredos do local, como o fato de que a Fera, na verdade, vive também com seus serviçais, transformados em objetos, como o candelabro Lumiere (Ewan McGregor), o relógio Horloge (Ian McKellen) e bule de chá Madame Samovar (Emma Thompson), que a ajudam a tornar sua “hospedagem forçada” ser mais agradável. Após um começo tumultuado, Bela passa a deixar o estranhamento inicial que sentia pela Fera de lado e faz o possível para ter uma boa convivência com ele, aprendendo a ver que, por baixo da terrível aparência, pode haver uma beleza interior capaz de mudar seus sentimentos.

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Ao contrário de “Cinderela”, que se limita a reproduzir tudo o que aconteceu na animação original sem grandes ousadias (apesar do bom trabalho de Kenneth Branagh na direção e das ótimas atuações de Lily James, Cate Blanchett e Helena Bonham Carter), em “A Bela e a Fera” é possível encontrar o brilho e a fascinação que faltaram naquele filme e também em “Malévola”. Somente Mogli, o Menino Lobo” consegue superar essa releitura da animação e ainda é o melhor exemplar deste novo sub-gênero. A produção está de parabéns pelos incríveis cenários (embora um ou outro soem um pouco artificiais) e pelas impecáveis direção de arte e figurinos, todos muito belíssimos e bastante fiéis ao desenho.

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Outro grande mérito está na direção de Bill Condon, que já realizou ótimos filmes (“Deuses e Monstros” e “Kinsey”), mas também algumas bombas como os dois últimos capítulos da “Saga Crepúsculo” (“Amanhecer – Partes 1 e 2”) e “O Quinto Poder”. Condon também já tinha feito um musical anteriormente, o irregular “Dreamgirls: Em Busca de Um Sonho” (que deu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante para Jennifer Hudson). Mas aqui, ele consegue fazer um ótimo equilíbrio entre os momentos cantados e os mais dramáticos, especialmente nas cenas em que Bela e a Fera passam a se entender melhor.

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Essas sequências são essenciais para que o filme funcione plenamente, pois se elas falhassem, tudo o mais fracassaria. Basta ver a versão francesa da história, estrelada por Léa Seydoux e Vincent Cassel, em que você não compra o envolvimento entre os protagonistas por causa da frieza que impera com o casal principal. Além disso, Condon é bastante feliz nos números musicais, em especial as canções “Be Our Guest”, “Gaston” e “Evermore” (que não fazia parte do desenho original). Todos esses momentos possuem bastante energia e certamente vão deixar os fãs bastante satisfeitos.

"A Bela e a Fera" preserva o encanto e a paixão da animação original – Ambrosia

Além da direção, o roteiro assinado por Condon, Evan Spiliotopoulos e Stephen Chbosky, que adiciona elementos sobre as origens de seus protagonistas, dá uma melhor solução a algumas inconsistências em relação a certos personagens, que na animação simplesmente desapareciam sem maiores justificativas. O texto também se mostra antenado com certos assuntos atuais e coloca Bela como uma mulher mais empoderada, que foge ainda mais do estereótipo de princesa tão criticado em outras obras da Disney. No filme, ela mostra uma voz mais ativa e contestadora sobre seu papel na sociedade, que não deve ser apenas ser de esposa e mãe, sem possibilidades de expandir seus horizontes. Uma ótima mensagem que deve ser passada para as espectadoras mais novas, e isso é feito de um jeito exemplar.

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No entanto, há alguns poréns no filme. Como os efeitos de captura de movimentos, muito em voga atualmente. Em alguns momentos, fica perceptível uma certa artificialidade nos gestos e na fala da Fera, que entregam que o personagem que surge na tela foi gerado por computadores. E há outros em que é notório que estamos diante de um ator maquiado. Faltou um pouco mais de sutileza para isso. Em “Mogli, o Menino Lobo”, esse recurso digital foi muito melhor utilizado e esperava-se uma evolução, o que não aconteceu aqui. Além disso, faltou dar mais tensão a algumas cenas, como a que envolve um ataque de lobos. Mesmo assim, não há muito do que reclamar desta nova versão.

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Depois de marcar toda uma geração como a Hermione Granger da série de filmes que adaptaram os livros de “Harry Potter”, a britânica Emma Watson teve a grande responsabilidade de personificar uma heroína tão cultuada quanto a bruxinha de Hogwarts e não faz feio. A atriz usa seu transbordante carisma para cativar o público como Bela e, embora pudesse se soltar mais em algumas sequências (especialmente as musicais), se mostra uma ótima escolha para viver a heroína e obteve uma boa química com Dan Stevens. Já o pouco conhecido ator está bem como o príncipe amaldiçoado e tem um ótimo momento musical no filme, embora não seja o mais marcante do elenco.

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Quem ganha esse título, com sobras, é Josh Gad, que dá um show como LeFou, o fiel escudeiro de Gaston, que se mostra bem divertido e com alguma humanidade. Algo que não acontecia no desenho e isso foi um grande acerto. O ator e o personagem se envolveram numa polêmica a respeito de sua sexualidade e houve até quem ameaçasse boicotar o filme. No fim das contas, os pais e mães podem ficar tranquilos pois não há nada mais pesado ou profundo em relação a isso e a questão é tratada com uma leveza que a torna quase imperceptível, graças principalmente ao talento de Gad.

Outra grata surpresa é Luke Evans. Mais conhecido por seus papéis em filmes de ação, como nas franquias “Velozes e Furiosos” e “O Hobbit”, Evans mostra um lado mais cômico (e também ameaçador) como o arrogante Gaston, além de ter uma bela voz para cantar. Quem sabe ele é mais aproveitado em outras produções que não tenha que só chutar traseiros e fazer cara de mau?

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Entre os objetos animados, Ewan McGregor se sobressai como Lumiere, dando vigor e energia, especialmente quando canta “Be Our Guest”. Ian McKellen diverte como Horlgue e Emma Thompson dá um tom dócil e ao mesmo tempo respeitoso para a Madame Samovar. O casal formado pelo cravo vivido por Stanley Tucci e o guarda-roupas Madame De Garderobe interpretada por Audra McDonald também rende boas risadas. Na parte humana, o ótimo Kevin Kline, infelizmente, é pouco aproveitado como Maurice, servindo basicamente de “escada” para os protagonistas. Mas ainda assim o faz com sua costumeira eficiência.

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Com uma trilha sonora imbatível, composta basicamente das mesmas músicas da animação (de Alan Menken Howard Ashman), mais algumas da versão levada para a Broadway, além de uma feita especialmente para este filme (“How Does a Moment Last Forever”, interpretada pela mesma Celine Dion que gravou a canção-tema em 1991), “A Bela e a Fera” vai deixar muita gente sentindo a mesma emoção que teve quando assistiu ao desenho pela primeira vez. Isso é a sua maior qualidade já que mostra que, quando quer, a Disney sabe como cativar seu público, que nem vai sentir o tempo passar durante as pouco mais de duas horas de projeção. Uma verdadeira magia do cinema.

Filme: “A Bela e a Fera” (Beauty and the Beast)
Direção: Bill Condon
Elenco: Emma Watson, Dan Stevens, Luke Evans, Kevin Kline, Josh Gad, Ewan McGregor, Stanley Tucci, Gugu Mbatha-Raw, Audra McDonald, Ian McKellen e Emma Thompson
Gênero: Musical, Fantasia, Romance
País: EUA
Ano de produção: 2017
Distribuidora: Disney
Duração: 2h 14min
Classificação: 10 anos

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