Cultura colaborativa! Participe, publique e ganhe pelo seu conteúdo!

“Spotlight: Segredos Revelados” toca em questão polêmica de forma contundente

O trabalho de um jornalista está longe da imagem idealizada em alguns filmes, livros e até mesmo histórias em quadrinhos. Muitas vezes, para se conseguir uma boa história, é necessário realizar uma pesquisa minuciosa, entrevistar diversas pessoas para obter a verdade sobre os fatos, além de fazer o possível para que sejam mostrados os diferentes lados da questão levantada. Isso leva tempo e é necessária uma dedicação que um bom repórter precisa ter para que seu texto seja capaz de fazer a diferença, no fim das contas. É claro que nem sempre isso é possível, mas quando acontece, aquela máxima de “a caneta é mais poderosa do que a espada” realmente faz sentido.

spotlight-swat-STILL_09_rgb

O cinema já mostrou isso de maneira eloquente em filmes como “Todos os Homens do Presidente” (1976), sobre o escândalo de Watergate (que levou Richard Nixon a deixar a Casa Branca). E, agora, chega um novo representante deste estilo de produção em “Spotlight: Segredos Revelados” (“Spotlight”, 2015), também inspirado em fatos reais, e que mostra todo o processo para que uma equipe de jornalistas pudessem publicar uma história polêmica e que atingiu uma forte e tradicional instituição (no caso, a Igreja Católica). O filme cumpre o seu objetivo de tratar de um tema espinhoso de uma forma clara e correta, embora sem grandes arroubos cinematográficos, o que pode desagradar parte do público. Mas ainda assim, possui grandes qualidades.

S_07827.CR2

A trama se passa em Boston que, após uma breve introdução em 1974, pula para 2001, quando Marty Baron (Liev Schrieber) assume o cargo de editor do jornal Boston Globe. Em sua primeira reunião, ele pede para seus jornalistas investigarem denúncias de abuso sexual infantil cometido por padres durante 30 anos. A equipe Spotlight, comandada por Walter “Robby” Robinson (Michael Keaton), assume a difícil tarefa e se dedica arduamente para descobrir o que há por trás deste descaso das autoridades católicas, especialmente o cardeal Law (Len Cariou), que fizeram vista grossa de todos os casos. Assim, Robby, junto com Mike Rezendes (Mark Ruffalo), Sacha Pfeiffer (Rachel McAdams) e Matt Carroll (Brian d’Arcy James) enfrentam diversos contratempos para que seja revelada a verdade sobre a pedofilia dentro da Arquidiocese de Boston e seu terrível esquema para acobertar os envolvidos.

S_09159.CR2

O diretor Tom McCarthy, cujo filme mais conhecido do grande público foi a comédia “Trocando os Pés”, com Adam Sandler, revela um pulso firme para comandar a produção, mostrando-se mais preocupado em contar sua história da maneira mais realista possível, embora dê um jeito de enfatizar o lado “heroico” de seus protagonistas determinados em obter as informações que foram escondidas para debaixo do tapete. Logo, não espere aqui grandes movimentos de câmera nem cenas que carreguem no melodrama (à exceção de uma, que parece ter sido feita para dar mais destaque ao personagem de Ruffalo, quando ele discute com seu chefe se toma uma decisão importante a respeito da história). O cineasta conduz tudo de maneira sóbria, mas nem por isso menos interessante, ainda mais com uma questão tão forte quanto a abordada no filme.

S_03330.CR2

O roteiro, escrito pelo diretor e por Josh Singer, também merece destaque por não ter rodeios para explicar o quão complexa foi a questão dos abusos sexuais dos padres e as possíveis consequências para a comunidade católica de Boston com a revelação das denúncias. Além disso, o texto também é feliz em mostrar a rotina dos jornalistas no trabalho e seu papel dentro de todo o contexto, mesmo antes de toda a questão ser aprofundada no Boston Globe. No entanto, o texto só peca no fato de que não consegue desenvolver bem os personagens, especialmente os protagonistas, mostrando-os apenas como verdadeiros “workaholics” e apenas alguns poucos detalhes sobre suas vidas fora do expediente são reveladas, o que ajudaria a humanizá-los um pouco mais.

S_07041.CR2

Mas a principal força de “Spotlight: Segredos Revelados” está mesmo em seu fantástico elenco. McCarthy toma a decisão correta de deixar todos com, praticamente, o mesmo destaque na tela. Mark Ruffalo, mais uma vez, entrega mais uma ótima atuação como o obstinado Mike Rezendes e se destaca na equipe do Spotlight. Michael Keaton, com a carreira ressuscitada após os diversos prêmios (incluindo o Oscar de Melhor Filme) de “Birdman”, se revela confortável com o seu papel. Afinal, ele já tinha interpretado um jornalista com algumas características semelhantes em 1994 no filme “O Jornal” e soa bastante convincente. Rachel McAdams, cada vez mais, deixa para trás a imagem de atriz bela, porém inexpressiva, além de estar disposta a encarar personagens mais arriscados. Os conflitos que sua Sacha começa a ter à medida que descobre mais sobre o caso chegam a fragilizá-la por sua criação religiosa e a atriz consegue passar bem isso. Brian d’Arcy James também não faz feio e é responsável por, pelo menos, um momento divertido na trama. Já Liev Schrieber aparece pouco para se destacar, embora esteja correto como Marty Baron, assim como John Slattery, que marca um pouco mais a sua presença como o editor Ben Bradlee Jr.

S_05764.CR2

No fim das contas, “Spotlight: Segredos Revelados” se mostra como um filme em que é preciso prestar atenção nos muitos detalhes, pois se o espectador se distrair por um segundo, pode perder o fio da meada e acabar confuso com tantos fatos, nomes e situações que surgem na história. Mas que, mesmo com sua formalidade, cumpre o seu objetivo que é denunciar uma coisa terrível que causou diversos danos (alguns fatais) em suas vítimas e que não deve ser esquecida ou deixada de lado. Ao final da projeção, certamente o espectador se pegará pensando por que algo tão impactante ainda acontece em nossa sociedade e o que fazer para que não aconteça. Não importa de que religião ele pertença.

Compartilhar Publicação
Link para Compartilhar
Publicação Anterior

“Já Estou Com Saudades”: para além do clichê, a honestidade…

Próxima publicação

“Os Oito Odiados” e o peso de ser Tarantino

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Leia a seguir