A notícia do remake do Brinquedo Assassino em 2019 significou um certo descaso para o criador do original, que não estava apenas imerso em seu próprio ciclo de sequências, mas que estava trabalhando nesta série. Chucky (Star+) não apenas uma série baseada na saga, mas uma sequência que defende a união de todo o universo em uma história cheia de reviravoltas e personagens.
Nos oito episódios da série, o criador da franquia, Don Mancini, toma como ponto de partida o segundo filme do Brinquedo Assassino (1990), e leva o design de Kevin Yagher para voltar às origens e contar a história que queria desenvolver na primeira parte, com um menino, que, além de ser uma vítima, é o alvo de corrupção do Chucky, transformando-o em sua ferramenta.
Isso muda e expande o papel de Chucky para uma consciência diabólica, estendendo a relação do homem e do boneco para uma dimensão psicológica que sempre existiu no cinema ventríloquo desde Na solidão da noite (Dead of Night, 1945) ou Magia Negra (1978). No entanto, essas nuances não diminuem o espírito slasher que colocou o ruivo ao lado de Freddy Krueger, Jason Voorhees e Michael Myers nos anos 1980 e 1990.
Enfim, soubemos um pouco mais de Chucky
Na série, o boneco reaparece em uma venda de rua e é comprada por um jovem chamado Jake Wheeler (Zackary Arthur), que está procurando peças para um trabalho artístico com bonecas. A escultura é bem grotesca por sinal, e podemos ver a mão de Nick Antosca, que co-produz a série com Mancini, com quem já teria trabalhando numa série de terror, a arrepiante Channel Zero (2016-2018). Antosca traz uma visão estranha, mórbida e sombria que marca a diferença com os filmes mais recentes do Brinquedo Assassino.
Mancini também aproveita a abertura atual para incluir o tema LGTBI+, com o qual sempre quis lidar e nunca conseguiu por causa da censura, e o seu Jake acumula diferentes inseguranças que o boneco tenta vampirizar, derivadas de sua luta para aceitar sua sexualidade. Criando uma metade sombria na qual a angústia adolescente se torna o resíduo para a corrupção que Chucky que usar, embora os primeiros capítulos terminem canalizando para uma trama adolescente mais trágica.
O que realmente surpreende é a naturalidade com que a série desenvolve as cenas em que Jake se mostra apaixonado por Devon (Björgvin Arnarson), onde os dois jovens atores conseguem expor esse romance de forma orgânica, fazendo com que seu parceiro marginalizado mostre a vulnerabilidade e a conexão do primeiro amor com mais sensibilidade e honestidade do que muitas séries muito mais focadas em relacionamentos românticos adolescentes. E não podemos esquecer que Chucky é uma série de terror, macabra e desbocada.
Descontroladamente engraçado e gore
A primeira temporada apresenta um número de cenas únicas e criativas de terror e assassinato que levam adiante a tradição de mortes bizarras da franquia. Algumas são bem cruéis e sangrentas, outros têm uma tensão impressionante, atingindo o equilíbrio de suspense e sangue no sexto episódio, pegando o melhor da perversidade e da ideia do slasher, estabelecida na saga ao longo dos anos.
É bacana a forma que alguns personagens de outros filmes, há outros foram forçado a fanservice. Os flashbacks de Charles Lee Ray não funcionam muito bem, embora cubram parte da curiosidade dos fãs, e a aparição de Jennifer Tilly como Tiffany pode ser demais, mas é divertida e agrega os elementos de loucura que acompanharam as aventuras.
Mancini celebra o universo que criou e que faz funcionar em seu próprio delírio. Chucky consolida a franquia com efeitos especiais animatrônicos muito cuidadosos, o retorno triunfante de Brad Douriff (voz de Chucky)- acompanhado de sua filha em três papéis diferentes – e uma conveniente atualização do germe original para os novos tempos.
Há alguns problemas estruturais, mas é compensado pelo gore de assassinatos grotescos, um papel importante para a visibilidade de gênero e uma crueza inusitada na hora de escolher suas vítimas, sempre mantendo intacta sua grosseira sardônica e ensanguentada.
Comente!