A física serviu de corpo para a corrida espacial, para o homem ir à lua. Ser, viu-se onde nenhum homem jamais pisou, Marte já foi sonda-do. Foguetes, naves, estações orbitais, giram pelo espaço em busca da escuta de quem nem Freud jamais sondou: o espaço, este outro correlato, sem muito sentido lato, pois não há saídas nem viadutos nem avenidas, dizia Itamar. Mas imaginar é proficiente, é ciência. Assim como os roteiristas descobriram que o olhar para espaço sideral tinha algumas lacunas para se preencher, coisas que os cientistas, apenas, indagavam para fins de corrida espacial (guerra fria) os artistas iam, corriam, para indagar quem? somos nós numa espécie de espelho invertido do corpo estelar do nosso organismo que pode ser uma galáxia ainda não desvendada.
No livro Gravidade zero do poeta Alexandre Guarnieri, lançado pela Editora Penalux, temos uma linha investigativa que parte de uma discografia de um dos artistas mais criativos que surgiu no Pop no século XX: David Bowie. Pensar o espaço no pleno e aterrador século XX foi algo límbico. Foi como sondar a mente do homem perante a barbárie da destruição, do embate ideológico entre fronteiras do Ocidente e Oriente. O espaço nunca foi tão avassalador ao homem, em sua sede de conquistas, como foi nos vintes. O poeta constrói em seus versos, uma costura entre a obra do cantor que teve alguns álbuns com leves tons de baixo desta corrida espacial; deste uso da tecnologia de ponta para construção de foguetes, de testes com animais para servirem de experimentos como suporte físico no espaço.
Seus poemas pegam alguns álbuns do Bowie, e fazem uma síntese do reverbere da ação do homem no espaço. Sua poética através de passagens do enredo do cantor nas letras, ressignificam a crítica a uma corrida armamentista que Estados Unidos e Rússia fizeram e que culminaram na Guerra Fria, na polarização de forças militares entre Ocidente e Oriente.
Há também uma interessante tanto do Bowie como do poeta Alexandre Guarnieri uma desconstrução de Gêneros. De uma certa prepotência hedonista masculina em deter o poder. Em acumular riqueza. A música e a poesia (letras) por serem o discurso mais aglutinador que arte gerou é talvez o mais demolidor de mitos e também fundador de mitos. Seu aspecto e espectro geracional de radiografar épocas e costumes tem um valor de emblema.