Se você perguntasse o que pode? as cartas de tarô, com uma iconografia simbólica onde cada carta reuni um repertório de informações contextuais ligadas ao um arquétipo. O baralho como uma estrutura exponencial de narrativas em que você leitor pode manuseá-lo para contar uma estória. As estruturas de narrar, hoje, são muito abertas, os discursos são a todos os momentos embaralhados como o próprio maço de tarôs. A Televisão (era) e é divulgação de telenovelas, agora, o reino está nas séries, onde se vê a influência do cinema, dos games, dos quadrinhos, mexendo com a libido do público, com as vibrações do mundo em chamas, com as volições do desejo, com a catarse do corte estético e sinestésico.
No livro “Às vezes o buraco é mais embaixo”, do escritor e músico, Johann Heyss, editado pela Editora Patuá, este ano, temos uma estrutura narrativa que adota elementos de várias semânticas de como contar um enredo, talvez mais do que uma estória. Embora haja elementos constitutivos tanto da literatura quanto do cinema em seu romance. Toda a ação dramática está muito bem auxiliada pela questão de velocidade do narrar, sem pressa, mas também não caindo no vagar. Na colaboração luxuosa de um repertório cultural, principalmente tocando em aspectos de gêneros e de cultura de imagem corporal, dizendo com isso, aspectos culturais alimentícios. O autor antagoniza seus dois personagens: Lauro e Amanda que se conhecem num curso de inglês para estrangeiros em Nova York, com aspectos antagônicos, de personalidade, cultura e classe.
Outro ponto fundamental para a leitura intensa que este resenhista teve sobre o livro foi as reviravoltas nos chamados pontos de virada, muito bem formatado no decorrer do espaço físico do livro. Ele tem 212 páginas, suas viradas são muito bem paginadas na estrutura de tamanho do romance, o que leva a um aspecto interessante a se falar: da fruição da leitura. Colocar dois personagens também não basta. O romance é um universo onde gravitam os coadjuvantes, onde há relações entre os protagonistas e os personagens em entorno que desenvolvem como o aluno de Lauro, Wagner, que será um guardião da reviravolta do destino do personagem Lauro.
Não há certo, uma noção maniqueísta, vinda da TV, se personagens vão cair na simpatia do leitor, há sim, uma complexidade de pensar tanto Lauro como Amanda como seres que vieram de psiques distintas e, portanto, ambos são constitutivos de acertos e falhas. O que sim, pode acontecer, é um olhar do leitor diante de suas constituições opinadas culturais em relação ao que lê.
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