Poemas gestuais. Não há expressão melhor para definir o que se passa em “Gritos”. Três poemas gestuais, como nos informa o belo programa da peça, em que corpos, bonecos, luz e movimento conferem expressividade a sentimentos e fatos que prescindem de qualquer palavra (ainda que haja um belo poema no final do primeiro Grito, em off).
André Curti e Artur Luanda Ribeiro, da Companhia Dos à Deux, são responsáveis pela concepção, dramaturgia, cenografia e direção, além de interpretação absolutamente impecável, em que a precisão dos movimentos e a perfeita manipulação dos bonecos geram certo aturdimento no espectador, até que possa compreender exatamente o que se passa, quem está no palco, a que distância os personagens estão, onde começa o humano e onde termina o inanimado.
Artur ainda assina a iluminação, junto com Hugo Mercier, que é fundamental no espetáculo, fazendo surgirem e desaparecem alguns objetos e estruturas do palco, gerando a sensação de evanescência de alguns personagens, promovendo a dúvida quanto ao que se vê. O cenário, feito de estruturas de colchão de mola posicionados na vertical, vão se modificando de acordo com os espaços e as barreiras que os personagens devem percorrer ou ultrapassar.
A música confere uma moldura de suspense e espera durante todo o espetáculo. E os bonecos de Natacha Belova e Bruno Dante são incrivelmente dotados de uma expressão estática que parece encaixar sem sobras ou excessos com os movimentos dos atores.
O que temos é uma espécie de coreografia belíssima sendo encenada com grande carga de impacto, sobretudo no terceiro poema gestual, o Grito 3, Kalsun, que trata da mulher e da guerra, do amor e da morte. O primeiro Grito traz uma relação difícil de dependência, em que o tempo, sem alterações significativas, é marcado por um pêndulo que sublinha a rotina de uma vida claustrofóbica, sem saídas.
Tal qual um cinema mudo, vamos acompanhando a trajetória da protagonista, que nos cativa por sua dedicação e sua revolta muda. O segundo grito, e o mais metafórico de todos, traz uma cisão impossível de ser resolvida, por maiores que sejam os esforços das partes cindidas. Mas nada disso que escrevo está sequer à altura do arrojo do espetáculo, da maestria de seus atores e da beleza das histórias que contam.
FICHA TÉCNICA
Espetáculo: Gritos
Patrocínio: Banco do Brasil
Realização: Centro Cultural Banco do Brasil
Concepção, dramaturgia, cenografia e direção: Artur Luanda Ribeiro e André Curti
Interpretação: Artur Luanda Ribeiro e André Curti
Pesquisa e realização objetos/bonecos: Natacha Belova e Bruno Dante
Assistente de realização objetos/bonecos: Cleyton Diirr
Criação Musical Grito 1: Fernando Mota
Colaboração: Beto Lemos e Marcelo H
Gritos 2 e 3
Direção Musical: Beto Lemos
Criação Musical: Marcelo H
Cenotécnico: Jessé Natan
Iluminação: Artur Luanda Ribeiro e Hugo Mercier
Figurinos: Thanara Schonardie
Contramestra: Maria Madelana Oliveira
Comunicação visual: Bruno Dante
Técnico de Luz : PH
Técnico de Som: Gabriel Reis
Contrarregra: Jessé Natan e Leandro Brander
Direção de Produção: Sergio Saboya
Produção executiva: Ana Casalli
Difusão – França: Drôles de Dames
Realização próteses: Dra. Rita Guimarães de Freitas
Fotos: Renato Mangolin
Assessoria de Imprensa: Paula Catunda e Bianca Senna
TURNÊ GRITOS
CCBB Rio de Janeiro > de 17 de novembro a 16 de janeiro de 2017
CCBB Brasília > de 8 de fevereiro a 5 de março de 2017
CCBB São Paulo > de 10 de março a 24 de abril de 2017
CCBB Belo Horizonte > de 4 de maio a 12 de junho de 2017
SERVIÇO CCBB RIO DE JANEIRO Espetáculo: Gritos Temporada: 17 de novembro de 2016 a 16 de janeiro de 2017 Dias e horários: Quarta a domingo, às 19h. Sessões extras nos dias 26/12, 02, 09 e 16/01 (segundas), às 19h. Local: CCBB Rio – Teatro I (Rua Primeiro de Março 66 – Centro). Informações: (21) 3808-2020 Capacidade: 175 lugares Classificação indicativa: 14 anos. Gênero: Drama Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia) Duração: 1h30min. bb.com.br/cultura | twitter.com/ccbb_rj | facebook.com/ccbb.rj |
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