Uma bandeira esvoaçante, que a cada vez que é vista, está mais puída. Uma música brincalhona, composta pelo grande Alexandre Desplat, para acompanhar a imagem. Ao final dos créditos iniciais, uma nova bandeira é içada e o regime se renova. Os muitos planos holandeses, principalmente nos primeiros episódios, criam uma sensação de desconforto. Na forma, todos os elementos de “O Regime” se unem para narrar a história que podia ser real, da líder de um pequeno país que se considera a maioral – uma história que está mais próxima da realidade do que nunca.
Um país qualquer da Europa Central, no qual magicamente todos falam inglês, é governado com mão de ferro pela Chanceler Elena Vernham (Kate Winslet). O problema atual que ela está enfrentando? Mofo no palácio, um lugar que se parece com uma mistura da Casa Branca com Versalhes. Para isso ela chama o Cabo Herbert Zubak (Matthias Schoenaerts) da Zona Cinco, e o encarrega de usar um aparelhinho que mede a umidade dos cômodos.
Sete anos antes, numa eleição que foi “limpa”, Elena ganhou do velho chanceler, um homem que tinha ideias “neomarxistas”. Ela é aconselhada por Zubak a cortar relações com o Ocidente, com os Estados Unidos em particular. Elena e Zubak se tornaram próximos porque começaram a sonhar um com o outro, e ela ficou ainda mais disposta a acreditar nele quando uma pesquisa demonstrou que ele tem relação cromossômica com a Criança Abandonada, o fundador mítico do país. Por indicação dele, Elena anexa o Corredor Faban, faixa de terra montanhosa que faz fronteira com seu país.

Mas Zubak não é o único homem que pode transformar Elena em uma coisinha “patética e decadente”: é o pai dela que tem esse poder. Mas há um revés: ele está morto. Isso, obviamente, não a impede de conversar com o cadáver num mausoléu ou dar uma festa de aniversário para ele.
Os outros homens ao redor de Elena são seu marido Nicky (Guillaume Gallienne), um entusiasta da poesia, e o menino Oskar (Louie Mynett), criado por Elena mas filho biológico da ajudante Agnes (Andrea Riseborough). Entretanto, este não é um patriarcado: Elena é quem manda no final das contas.
Kate Winslet conta que foi uma alegria, e ao mesmo tempo um desafio, dar vida a Elena. Ela teve um intenso preparo, estudando como o trauma pode afetar a vida de uma pessoa, para tornar a personagem crível, de uma maneira entre o engraçado e o odioso. Ela se interessou pelo papel, que declarou ser diferente de tudo o que já havia feito até então, e pela oportunidade de dar um toque feminino a uma superautoridade tão comumente associada ao gênero masculino.

A própria HBO fez propaganda de “O Regime” como sendo uma mistura das séries Succession, Veep, Industry e The White Lotus. Os criadores e a própria Kate Winslet declararam que não se basearam em nenhum líder atual, mas sim num amálgama de personalidades, para escrever o roteiro e modelar a personagem Elena. Isso, entretanto, pode ser debatido. É impossível não se lembrar de ditadores, do passado e do presente, e dos muitos absurdos acontecidos durante seus governos, de eliminação da oposição a manias curiosas de líderes que se consideram acima de tudo e de todos. Assim, a sátira fica mais pungente, e a interpretação de Winslet, merecidamente elogiada, mostra-se o ponto alto da minissérie.
NOTA 8 de 10
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