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Resenha Crítica de Com uma Pulga Atrás da Orelha (1968)

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A adaptação cinematográfica de Com uma Pulga Atrás da Orelha (1968), dirigida por Jacques Charon (1920-197), tenta traduzir o caos cômico das farsas de Georges Feydeau (1862-1921) para a telona, mas acaba perdendo parte de sua essência ao ser transposta para um meio cinematográfico. Baseada na peça La Puce à l’Oreille, a narrativa gira em torno de mal-entendidos, infidelidades e identidades trocadas em um hotel de reputação duvidosa na Paris do início do século XX. Entretanto, a transição do teatro para o cinema revela as dificuldades em manter a energia frenética e a coesão estrutural que são a marca registrada de Feydeau.

No teatro, a magia das peças de Feydeau está em sua capacidade de criar uma comédia ininterrupta, que se desenrola como um único e delirante mecanismo de relojoaria. No entanto, ao utilizar cortes de câmera e closes no cinema, o filme acaba fragmentando essa unidade. Em vez de capturar a fluidez das situações simultâneas e a tensão crescente típica do gênero, as pausas entre as ações enfraquecem o impacto cômico. Charon, vindo da renomada Comédie Française, que também dirigiu a adaptação para o teatro britânico no ano anterior, faz sua estreia no cinema com uma abordagem que, em vez de rápida e incisiva, é lamentavelmente arrastada.

Rex Harrison (1908-1990), no papel principal do advogado Victor-Emmanuel Chandebise, que é erroneamente acusado de traição pela esposa, entrega uma performance que parece mais adequada para o teatro de Shaw do que para a farsa de Feydeau. A sua atuação não consegue capturar o exagero e a energia desenfreada que são necessários para sustentar o humor físico e verbal da trama. Sua dupla performance, interpretando também o porteiro alcoólatra Poche, resulta em momentos constrangedores, longe do brilhantismo esperado. Por outro lado, Rosemary Harris (1927), no papel de sua esposa, apresenta uma elegância e uma sofisticação contidas, mas não consegue elevar o filme além de uma representação estilosa e correta.

Os demais atores, como Rachel Roberts (1927-1980) e Louis Jourdan (1921-2015), têm participações pontuais que não conseguem manter a chama da comédia viva por tempo suficiente. O roteiro de John Mortimer (1923-2009) também contribui para a sensação de que a narrativa só realmente ganha impulso após uma longa espera, minando o efeito cômico que deveria ser constante. A espera para que as confusões e os confrontos aconteçam é longa demais, e quando finalmente ocorrem, a energia já se dissipou.

Visualmente, Com uma Pulga Atrás da Orelha é um deleite, com cenários de época impecáveis e uma recriação fiel da atmosfera parisiense. Contudo, em uma farsa, o fato de o público poder “admirar os cenários com calma” é uma falha, já que o ritmo deveria ser tão frenético que os detalhes visuais se tornariam secundários frente ao caos das ações. Assim, a tentativa de transformar a agitação das farsas teatrais de Feydeau em um filme acaba esbarrando nas limitações do próprio meio cinematográfico. O que funciona no palco, com sua simultaneidade e ritmo acelerado, se desfaz nas telas, onde a montagem e a direção pausada de Charon não conseguem acompanhar a cadência vertiginosa que a peça exige. Para os amantes do teatro, esta adaptação pode frustrar, oferecendo um vislumbre de um mundo cômico que, em vez de fazer rir, parece apenas manter as aparências.

Homenagem Póstuma: Laurence Badie (1928-2024)

Laurence Badie, atriz francesa conhecida por sua voz singular, faleceu na Bretanha aos 91 anos, em janeiro de 2024. Laurence Dolores Badie-Lopes – seu nome completo – nasceu em 15 de junho de 1928 em Boulogne-Billancourt, perto de Paris. A avó queria que ela tenha “um bom escritório” quando crescer. Ela, portanto, estudou no HEC, mas apenas por um ano. Ela preferiu o teatro de qualquer maneira. Para isso, teve aulas com o ator Julien Bertheau e dali para o cinema foi um pulo.

Badie iniciou sua carreira nos palcos no final da década de 1940, participando de peças nascidas da pena de dramaturgos clássicos como William Shakespeare, Molière, Anton Chekhov ou mesmo Beaumarchais.Celebrada por seus papéis em teatro, cinema e dublagem, ela participou de mais de 40 filmes e muitas séries de televisão, além de ser muito reconhecida na dublagem francesa. Badie marcou a comédia francesa dos anos 50 e 60 com seu talento presente e vibrante, permanecendo ativo em suas atuações ao longo de décadas. Durante a carreira, dublou desenhos animados, participou de game shows e apareceu em cartazes de diversas peças de bulevar. Outra geração se lembra dela pela voz, sem necessariamente conhecer seu rosto, como a Vera no desenho animado Scooby-Doo e diversos outros personagens.

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Cadorno Teles -

Cearense de Amontada, um apaixonado pelo conhecimento, licenciado em Ciências Biológicas e em Física, Historiador de formação, idealizador da Biblioteca Canto do Piririguá. Membro do NALAP e do Conselho Editorial da Kawo Kabiyesile, mestre de RPG em vários sistemas, ler e assiste de tudo.

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