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“The Nevers”: Jovens mutantes na Londres vitoriana

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A Londres vitoriana já foi cenário para várias séries, Penny Dreadful (2014), Carnival Row (2019), Enola Holmes (2020) e Os Irregulares de Baker Street (2021) e muitas outras produções que compartilham de suas narrativas no mesmo período. A HBO traz mais uma, The Nevers, com uma temática sobrenatural scifi.

The Nevers é a nova série de Joss Whedon, o aclamado criador de Buffy the Vampire Slayer e conhecido por ser o diretor de The Avengers: Os Vingadores. A série estreiou na HBO em abril, era o retorno triunfante  de Whedon à televisão após o revés sofrido com a ‘Liga da Justiça’, mas o showrunner acabou abandonando a série no meio da produção da primeira temporada e agora a HBO está fazendo todo o possível por dissociar The Nevers de Whedon.

Não é difícil entender o motivo, já que o diretor foi acusado duramente por intérpretes como Ray Fisher ou Charisma Carpenter, passando assim de figura de renome a uma praga de Hollywood. Portanto, será difícil encontrar outro trabalho, com exceção de ‘The Nevers’, onde é perceptível sua marca, já que escreveu e dirigiu os os dois primeiros episódios.

Sinopse

Agosto de 1896. A Londres vitoriana é abalada em seus alicerces por um evento sobrenatural que concede a certas pessoas, principalmente mulheres, habilidades anormais, do maravilhoso ao perturbador.

Independentemente de suas “reviravoltas” particulares, todos os que pertencem a essa nova classe desprivilegiada estão em grave perigo. Cabe à misteriosa e astuta viúva Amalia True e à brilhante jovem inventora Penance Adair proteger e abrigar esses talentosos “órfãos”. Para fazer isso, eles terão que enfrentar forças brutais determinadas a aniquilar sua espécie.

Análise

Embora The Nevers não seja mais a série de Whedon devido à polêmica que o envolveu; as acusações o obrigaram a ser dispensado antes da estréia, mesmo assim a série surpreendeu ao reutilizar muitos conceitos conhecidos para criar algo totalmente novo.

The Nevers é a série que Whedon gostaria de fazer sobre os X-Men. Mas, neste caso, foi inteligente fugir do cenário de um universo de super-heróis em um futuro próximo e levá-lo numa Londres vitoriana. E melhora ainda mais quando coloca o steampunk no meio. Essa mistura funcionou muito bem, a produção é de qualidade, apesar da fotografia tão viva que, na minha opinião, sempre denigre o trabalho de Whedon.

Iremos conhecer o pulsar de uma sociedade que olha com desconfiança para as Tocadas – uma espécie de heroínas vitorianas; grupo de mulheres que adquiriram poderes a partir de um misterioso acontecimento no qual por ora não se aprofundou, é essencial, mas também o que pode tornar as coisas mais complicadas do que o estritamente necessário.

Use o fantástico para falar sobre nossa realidade

Se lembrarmos os X-Men foram criados para abordar sobre o racismo. Em The Nevers, Whedon usa esse recurso para atualizá-lo com os tempos modernos. Mas não somente de racismo, mas também de feminismo.

Na série, somos apresentados aos protagonistas interpretados por Laura Donnelly e Ann Skelly que são responsáveis ​​por descobrir, adotar e proteger mulheres que acabam de manifestar seus poderes antes de serem apropriadas por um grupo desconhecido para sequestrá-las e usá-las para seus planos perversos.

Coincidentemente, a líder delas (Olivia Williams) está em uma cadeira de rodas, como Charles Xavier.

Elas não só terão que enfrentar essa gangue rival, mas veremos que a alta sociedade também tem outros planos, como explorá-los economicamente (através de um bordel com o personagem de James Norton ) ou mesmo submetê-los a experimentos. Mas o mistério ronda as tocadas, frente ao evento cósmico, o que revelará uma surpreendente fio narrativo.

Além disso, as “tocadas” entram num contexto onde se veem cada vez mais expostas à hostilidade social, violência e perseguição. A classe dominante masculina, em particular, sente que seus privilégios estão ameaçados em face dos superpoderes femininos.

Conclusão

The Nevers é uma série com uma mensagem poderosa e atual, o emponderamento feminino é claro. Com muitos personagens, um charme especial, diálogos brilhantes e um universo marcante no qual o personagem interpretado por Donnelly se destaca com sua própria luz.

A história expõe uma verdade fundamental da humanidade que ainda hoje prevalece. As pessoas temem o desconhecido e, por causa desse medo, pode fazer com que as pessoas mostrem o que há de pior no que a humanidade tem e continua a fazer em nosso tempo. E é nesse aspecto, que a série acerta, e longe de Whedon, agora é aguardar a segunda temporada, para mostrar seu potencial.

Nota: Ótimo – 3.5 de 5 estrelas

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Por
Cadorno Teles -

Cearense de Amontada, um apaixonado pelo conhecimento, licenciado em Ciências Biológicas e em Física, Historiador de formação, idealizador da Biblioteca Canto do Piririguá. Membro do NALAP e do Conselho Editorial da Kawo Kabiyesile, mestre de RPG em vários sistemas, ler e assiste de tudo.

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