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"A Câmera de Claire" e a simplicidade contundente de Sang-soo Hong

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“A única forma de mudar as coisas é olhar para tudo novamente bem devagar.” Essa é a frase dita pela personagem Claire a Manhee. Sob o prisma da revisão de conceitos se delineia a narrativa de “A Câmera de Claire” (La Caméra de Claire, França/Coreia do Sul, 2017), do diretor Sang-soo Hong.
Em Cannes, os caminhos de duas mulheres se cruzam. A professora parisiense Claire (Isabelle Huppert) passa o tempo fazendo fotografias com uma câmera Polaroid. A coreana Jeon Manhee (Minhee Kim) é recém despedida por sua chefe, sem revelar o real motivo da demissão. Elas se tornam amigas e o hobby de Claire influi para que a jovem Manhee tenha uma maior compreensão da vida.

Em apenas 69 minutos, Hong, que também assina o roteiro, discorre sobre entendimentos e pontos de vista através de sua câmera minimalista. Essa simplicidade é usada para se coadunar com os dilemas cotidianos (mas não propriamente banais) que geram tanta angústia. O cinema de Hong não é para todos os gostos. Há os que não perdoam o ritmo que imprime em suas histórias, considerado arrastado por muitos. Também é atacado por parecer às vezes vago, segundo alegações de alguns. Para outros, sua frugalidade cinemanovista – com planos longos, iluminação com luz naturalé justamente seu trunfo, trazendo um sopro de relevância ao cinema coreano.
Nesse filme ele está à vontade com duas atrizes com quem já trabalhou em produções anteriores. Isabelle Huppert (que brilhou no recente “Elle”, atuação que lhe rendeu um Globo de Ouro e uma indicação ao Oscar) foi a protagonista de “A Visitante Francesa”, de 2012. Minhee Kim (de “A Criada”) esteve em “Na Praia à Noite Sozinha” e “Certo Agora, Errado Antes”. Hong extrai atuações naturalistas de ambas. É um deleite assistir as performances de duas gerações de atrizes de talento indiscutível. Uma estabelece o contraponto das personagens e pode parecer clichê: a coreana tímida e a francesa expansiva. Mas, ao mesmo tempo, uma é complemento da outra, gerando uma interação curiosa. Também é válido destacar o esmero de Jin-young Jun no papel do diretor So. Toda a aflição e desconsolo escamoteados sob um manto de serenidade tornam o personagem crível e de fácil compreensão, apesar da complexidade.
“A Câmera de Claire” é exitoso nos aspectos a que se propõe e na execução de sua linguagem peculiar. Além de propor uma pertinente questão sobre as relações interpessoais em diferentes âmbitos.

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