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“Animais Fantásticos e Onde Habitam” mantém o encanto do universo de J.K. Rowling

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Quando “Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2” foi lançado em 2011, parecia que o universo criado por J. K. Rowling tinha chegado ao fim no cinema, com toda a pompa e circunstância que a saga do bruxinho mais querido do mundo merecia. Bem, parecia. Porque os executivos de Hollywood não são nada trouxas e usaram seus poderes místicos para persuadir Rowling a ceder seus direitos para as obras derivadas dos livros das aventuras de Potter.

A escritora também foi esperta e, além de produzir este novo projeto, também ficou responsável pelo roteiro final. Assim, “Animais Fantásticos e Onde Habitam” (“Fantastic Beasts and Where to Find Them”, EUA/Reino Unido, 2016) resulta num bem-vindo retorno ao universo imaginado pela autora e deve deixar (principalmente) os Potterheads (fãs de Harry Potter) mais do que satisfeitos. Mas também deve agradar aos não iniciados.

Ambientada em 1926, a trama mostra Newt Scamander (Eddie Redmayne), um bruxo magizoologista, que chega a Nova York para encontrar e documentar criaturas mágicas. O problema é que, por causa de um incidente, alguns dos seres que estão dentro de sua maleta mágica acabam escapando pela cidade e caberá a Scamander, junto do não-maj (como os americanos chamam os “trouxas”, pessoas comuns e sem poderes) Jacob Kowalski (Dan Fogler) procurá-los e colocá-los de volta em seu cativeiro antes que causem mais estragos.

Durante sua jornada, os dois contarão com a ajuda de Tina Goldstein (Katherine Waterson), uma ex-Auror (espécie de policial do Conselho Mágico dos Estados Unidos) que acabou indo parar no serviço burocrático, e sua irmã Queenie (Alison Sudol), capaz de ler mentes. Só que o misterioso Percival Graves (Colin Farrell) também está de olho nas ações de Scamander e seu grupo, e quer evitar o sucesso da missão.

O grande mérito de “Animais Fantásticos e Onde Habitam” é que seus realizadores conseguiram manter o mesmo clima mágico que consagrou Harry Potter no cinema, tornando o filme uma aventura divertida e bastante agradável, apesar do ritmo irregular e da duração um pouco excessiva. O diretor David Yates (que comandou os quatro últimos filmes da série original) já está bem familiarizado com esse universo. Aqui, ele realiza ótimas sequências como, por exemplo, a que acontece dentro da maleta de Newt, onde ficam as criaturas (uma cena que justifica assistir ao filme em 3D).

O cineasta faz planos bem amplos, onde o público pode ter a sensação de grandeza do filme, seja nos cenários reais quanto aqueles criados por computador. Isso pode ser notado especialmente no momento em que somos apresentados ao quartel-general do Conselho Mágico.

Outro ponto positivo está na cenografia, que faz uma boa reconstituição da Nova York dos anos de 1920, assim como mostra como vivem os bruxos nova-iorquinos, que ficam em regiões subterrâneas, mas não soturnas, apesar de serem bastante sóbrias. Vale destacar também o interessante figurino usado pelos personagens, que possuem elementos bem formais misturados ao que já foi visto nos filmes anteriores. Os efeitos especiais, sobretudo as criaturas que aparecem na história, ficaram bem realistas e as interações com os personagens reais bastante convincentes.

Estreando como roteirista de cinema, J. K. Rowling consegue realizar um bom trabalho e  desenvolver bem os personagens principais, além de utilizar um recurso interessante. Embora Newt seja o protagonista da história, é pelos olhos de Jacob que o espectador acompanha sua entrada naquele mundo secreto e mágico, deixando o público ser seu cúmplice para compartilhar seu espanto e admiração com as coisas que passa a visualizar.

A trilha sonora de James Newton Howard também se sobressai com belas melodias, que se mesclam ao clássico tema de Harry Potter feito pelo mestre John Williams. No entanto, o filme talvez ficasse mais coeso se a edição removesse alguns momentos mais arrastados, que não acrescentam muito à trama e podem testar a paciência de quem não é tão curtidor deste universo. Além disso, alguns personagens coadjuvantes são bastante descartáveis ou pouco interessantes, como o dono de um jornal vivido por Jon Voight. Mas quem não se incomodar com isso certamente irá curtir bastante a produção.

O oscarizado Eddie Redmayne se vale de alguns trejeitos que já foram vistos em outros trabalhos para compor Newt Scamander. Mas não se sai mal, mesmo assim, tornando seu protagonista uma pessoa atrapalhada, porém cativante. Katherine Waterson não sai muito do lugar comum para tornar Tina relevante, mas também não compromete.

Colin Farrell está apenas OK como o antagonista, embora tenha um ou outro momento interessante, especialmente no final. Ezra Miller, o novo Flash do cinema, tem uma atuação contida e consegue passar o sofrimento de Credence, um jovem que tem problemas com a mãe adotiva Mary Lou (Samantha Morton, bem como de costume), e que acaba se envolvendo na questão entre os bruxos.

Mas quem conquista o coração do público é mesmo o pouco conhecido Dan Fogler, que faz com que Jacob seja um personagem bastante simpático ao espectador com seu jeito inocente e puro, que mesmo não entendendo muito bem o que está acontecendo, se mostra disposto a ajudar Scamander com seus problemas. Ele acaba fazendo também uma ótima dupla com Alison Sudol, que também possui bastante carisma como Queenie, uma bruxa que lembra um pouco o comportamento de Luna Lovegood (Evanna Lynch), personagem consagrada dos filmes originais, e faz com que torçamos pelo casal.

“Animais Fantásticos e Onde Habitam” é um ótimo ponto de partida para uma nova saga ambientada neste universo criado por J. K. Rowling e consegue, junto com “Meu Amigo, o Dragão”, ser o melhor filme de fantasia de 2016. Com um desfecho que vai fazer muita gente bater palmas no final, resta saber se a (agora) roteirista, junto de Yates e sua equipe, serão bem sucedidos nas próximas quatro sequências que foram anunciadas. Sem truques baratos, de preferência. Afinal, foi com pura magia que Harry, Rony, Hermione e sua turma arrebataram tantos admiradores pelo mundo. E, provavelmente, isso deve continuar nos próximos anos.

Leia também a crítica escrita por Renan de Andrade

Filme: Animais Fantásticos e Onde Habitam (Fantastic Beasts and Where to Find Them)
Direção: David Yates
Elenco: Eddie Redmayne, Katherine Waterson, Dan Fogler, Colin Farrell
Gênero: Aventura/Fantasia
País: EUA/Reino Unido
Ano de produção: 2016
Distribuidora: Warner Bros
Duração: 2h 13 min

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