Existem certos filmes que antes mesmo de lançarem já contam com um burburinho em volta deles. Esse falatório todo pode acarretar em dois acontecimentos: o filme ser um enorme sucesso ou um total fracasso. Infelizmente, “47 Ronin” foi pego na segunda opção.
A trama é bem simples e já foi narrada inúmeras vezes e de diversas formas diferentes. No Japão feudal um menino, Kai, (Keanu Reeves) é encontrado inconsciente na floresta e salvo pelo Lorde de Asano (Min Tanaka) e levado até a província de Ako, onde passa a ser um serviçal pois ele é mestiço. Sua única amiga é a princesa da província, Mika (Kô Shibasaki) com quem ele pode conversar normalmente. Todos os outros samurais o menosprezam e mesmo após salvar a vida de um deles, continua sendo visto como um mero serviçal. A província de Ako é prospera e seus habitantes bem alegres, mas tem alguém que não gosta nada disso, Lorde Kira (Tadanobu Asano) que encarrega a bruxa (Rinko Kikuchi) de bolar algo para que ele possa tomar as terras de Ako. É organizado um duelo entre os campões das províncias, mas Yasano (Masayoshi Haneda) é amaldiçoado e resta a Kai lutar em seu lugar para não desgraçar Ako e o Lorde. A farsa é descoberta e Kai é punido severamente.
Lorde Kira vê que seu plano não funcionou e exige que a Bruxa faça outra coisa imediatamente. A noite Lorde Asano é enfeitiçado e acaba atacando Lorde Kira o que é uma verdadeira ofensa aos bons costumes japoneses. O Shogun (Cary-Hiroyuki Tagawa) presencia tudo e sentencia Lorde Asano ao sepukku, tirar sua própria vida e morrer com honra como um samurai. Sem um Lorde para comandar Ako, o Shogun designa Kira para o papel assim como o faz ser o futuro noivo de Mika. Para finalizar, ele desonra os guardas de Asano e os proíbe de procurar vingança. Temendo que eles a façam ainda assim, Kira joga o líder deles Ôishi (Hiroyuki Sanada) em um buraco até a semana de seu casamento com Kira, ainda assim Ôishi decide reunir novamente os seus homens juntamente com Kia e se vingar por Asano e Ako.
Ópera, teatro kabuki, peça de teatro e pelo menos mais de seis filmes, incluindo um especial para a televisão em duas partes foi feito sobre essa famosa história japonesa. O que me fez perguntar a razão de tanta crítica negativa acerca deste filme. E na verdade a resposta é apenas uma: falhou ao suprir as expectativas de todo mundo, porque no geral é um bom filme.
Esteticamente, se formos falar da fotografia com seus planos abertos e locações deslumbrantes, ou dos figurinos trabalhados em cima do estudo das cores onde o Shogun, pessoa de maior poder, usa dourado e amarelo, Kira a personagem que é cheio de inveja usa tons de roxo e azul, a bruxa, que é cega pela ganância usa tons de verde e os confiantes samurais de Asano usam o vermelho, cor associada a nobreza e também a guerra, podemos dizer que não há erro algum. Na verdade dá gosto de ver algo tão bem feito assim. Então qual é o problema?
A história que é baseada nesse famoso conto tem leves modificações, pois como diz o ditado “quem conta um conto, aumenta um ponto”, logo, eles escolheram a versão mais dramática com elementos míticos e folclóricos como bruxas e dragões. O que nos leva finalmente ao ponto fraco neste longa: as atuações. Verdade seja dita, não há grandes diálogos no roteiro que levasse os atores a interpretarem magistralmente como se declamassem Skakespeare. O foco está mais nas emoções e desenvolvimento dos personagens, e Keanu Reeves, que todos esperavam bater e lutar como ninguém, está apagado, mas foi uma escolha acertada pois ele está agindo exatamente como os outros samurais, onde ações e demonstrações de honra contam muito mais que palavras bonitas. Não podemos esquecer que se trata de um conto japonês, um povo que nunca foi dado a se expressar muito verbalmente. Logo, não há porque exigir um nível alto de atuação, e os atores escalados cumprem muito bem seus papéis, mas é a Rinko Kikuchi quem mais se destaca entre todos.
Logo, aprendemos que criar expectativas, especialmente sobre um filme, não é lá muito bom, pois perdemos a chance de nos entreter com algo interessante e agradável como é “47 Ronin”.
PS: se você esperava ver o Rick Genest mais conhecido como Zombie Boy, sinto lhes dizer que a participação dele é ínfima e a cena que aparece no trailer foi cortada.
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