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“Brinquedo Assassino” atualiza terror de Chucky com humor e drama (!!!)

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Praticamente todos os ícones do terror dos anos 1970-80, como Michael Myers (“Halloween”), Jason Voorhees (“Sexta-Feira 13”) e Freddy Krueger (“A Hora do Pesadelo”) ganharam releituras nos últimos anos por realizadores de olho em jovens que ainda não conheciam totalmente esses personagens, e também nos fãs mais antigos, que sempre podem ser atraídos pela nostalgia. Um dos únicos que ainda não tinha sido “reimaginado” é Chucky, o boneco que foi possuído pela alma de um serial killer e que conquistou vários admiradores com diversos assassinatos de forma cruel, que contrastavam com sua aparência falsamente inofensiva. Tanto que ganhou inúmeras sequências que, mesmo caindo de qualidade com o passar dos anos, ajudaram a manter Chucky vivo na memória do público, mesmo tantos anos depois de sua primeira aparição, no agora longínquo 1988.

Agora, o boneco psicopata foi finalmente incluído no Clube dos remakes/reboots, como seus “colegas de profissão” com um novo “Brinquedo Assassino” (“Child’s Play”, 2019), que busca trazer o personagem para um mundo bem mais tecnológico e, por que não dizer, mais cínico do que há mais de 30 anos atrás. O filme traz boas doses de terror e suspense, mas são outros elementos que se sobressaem nesta nova versão, como o humor e até mesmo o drama, o que até surpreende por usar este último ingrediente de maneira interessante. Mas há algumas questões que não ficam bem resolvidas e que acabam sabotando o resultado final, que até tem um saldo positivo mas poderia ser bem melhor.

Numa sociedade dominada pelos produtos da empresa Kaslan (uma espécie de mistura da Sony, Apple, Google e até mesmo a Uber), a trama mostra que um dos seus carros-chefe é o boneco Buddi, que é capaz de interagir com os seus donos e de se conectar com todos os outros produtos eletrônicos da firma. Um deles é adquirido por Karen (Aubrey Plaza), que resolve dar o brinquedo para alegrar o filho Andy (Gabriel Bateman), que se sente deslocado no prédio onde vive. O boneco se auto nomeia Chucky e passa a ser um companheiro cada vez mais constante para o menino.

Mas aos poucos, Andy percebe que Chucky não é como os outros bonecos de sua série e que está desenvolvendo uma personalidade violenta e desequilibrada. Ao tentar alertar aos outros sobre as coisas estranhas que vem notado, ninguém acredita nele já que Chucky é apenas um brinquedo. Até que estranhos crimes começam a acontecer e o novo melhor amigo de Andy pode estar envolvido.

O curioso deste novo “Brinquedo Assassino” é na maneira encontrada pelo roteiro escrito por Tyler Burton Smith para lidar com o relacionamento entre Andy e Chucky, que é bem mais aprofundado do que no filme original. Aqui, o boneco busca fazer de tudo para tornar a vida do menino menos solitária e vazia e que, como se fosse uma versão distorcida do David de “A.I. – Inteligência Artificial”, se torna uma espécie de devoto incondicional de seu dono e não mede esforços para tirar de seu caminho o que acha que incomoda seu amigo ou sua relação com ele.

Outro ponto interessante é que, ao contrário da produção de 1988, Chucky possui uma certa inocência e parece não compreender muito bem o que está fazendo, gerando alguns momentos bastante divertidos, enquanto que o  brinquedo original já age com uma malícia bem esclarecida desde o início da história.

Outro ponto interessante está na maneira que o diretor Lars Kleberg resolveu filmar “Brinquedo Assassino” como se fosse uma espécie de tributo a outro filme de Steven Spielberg: “E.T. – O Extraterrestre”. Basta reparar nos enquadramentos feitos na altura dos meninos ou mesmo nas roupas que Andy usa, que remetem ao figurino que Elliott (Henry Thomas) vestia no clássico de Spielberg. O diretor também é bem sucedido ao criar cenas de suspense, nas quais Chucky aparece e desaparece, dando a sensação aos personagens (e ao público) de não saber o que ele fará em seguida.

É uma pena, no entanto, que o filme se renda a situações apelativas e sem sentido a partir de sua metade. Tudo bem que a premissa de um boneco descontrolado que começa a praticar assassinatos é bastante surreal, mas mesmo assim a impressão que dá é que tanto o diretor quanto o roteirista jogam para o alto todo o cuidado mostrado na primeira parte da trama para criar uma boa ambientação que acaba dando lugar a uma espécie de oba-oba, principalmente em seu desenlace, que vira uma espécie de samba do boneco doido, só para justificar cenas com muito sangue e vísceras e, assim, agradar o espectador ávido por carnificinas cinematográficas, o que é uma pena.

No elenco apenas regular, Aubrey Plaza faz o que pode para tornar sua Karen uma personagem mais interessante do que a versão feita por Catherine Hicks no filme de 1988, já que agora ela apresenta algumas falhas como uma mãe que, embora ame o filho, se mostra meio displicente.

Já o bom o ator Brian Tyree Henry pouco tem a fazer como o detetive que investiga os estranhos crimes que surgem com a chegada de Chucky, embora tenha um bom momento dramático perto do terço final da história. O menino Gabriel Bateman faz uma boa construção para Andy e torna o personagem bastante crível, tanto nos momentos em que se sente solitário quanto nas cenas em que é mais cobrado dramaturgicamente falando, quando precisa provar a todos que seu boneco não é tão inofensivo quando parece.

No entanto, o grande destaque vai mesmo para o trabalho vocal de Mark Hamill para Chucky. O eterno Luke Skywalker já faz um ótimo trabalho com dublagens, em especial com o Coringa na série animada do Batman e nos games do Cavaleiro das Trevas, e foi uma ótima escolha para substituir Brad Dourif, já que o ator acerta tanto no tom inocente quanto tom ameaçador de Chucky, até mesmo quando tem que cantar a “música-tema” do personagem. A dublagem de Hamill compensa até o trabalho irregular dos efeitos usados para a movimentação de Chucky, que parece mais artificial do que no filme de 30 anos atrás.

Embora não supere a obra original dirigida por Tom Holland (não confundir com o Homem-Aranha) e que também foi o responsável pelo ótimo “A Hora do Espanto”, o novo “Brinquedo Assassino” não chega a ser o pior dos remakes/reboots feitos com personagens icônicos do terror. Ele deve agradar a quem curte os já famigerados “jump scares”, que se tornaram regra nos filmes do gênero. Serve como diversão e nada muito além disso. Mas dava para fazer algo bem mais cativante e fora da curva. Que pudesse realmente provocar medo e mostrar por que Chucky deve ser levado mais a sério e não uma simples brincadeira. Como todos os ícones de terror merecem ser tratados.

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