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Buscando identidade, 007 faz de Skyfall seu filme mais importante

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O cineasta Sam Mendes é um verdadeiro caçador de mitos. Seus filmes existem para desmitificar pedestais. Seja o questionável american way of life (Beleza Americana), seja a fragilidade dos anseios matrimoniais (Apenas Um Sonho) ou até mesmo a mitificação pasteurizada de James Bond no excelente Skyfall. Os CEOs da franquia de espionagem mais conhecida do planeta tiveram a ótima ideia de chamar o diretor para celebrar o 50º ano da marca, num filme em que o homem e o mito se convergem na fragilidade humana das circunstâncias aos quais estão fortemente atrelados.

Para além do peso do personagem, incrustado na história do cinema e na cultura pop como poucos, Skyfall é um filme de confrontos. Físicos e (ainda mais) subjetivos. O passado de Bond vai construindo toda a estrutura narrativa do roteiro, equilibrando com inteligência às necessidades pirotécnicas da superprodução. Daí saem cenas de ação espetaculares mas ao mesmo tempo críveis sob uma direção que justifica a ação pela emoção. Assim como fez em Estrada para Perdição, onde mesmo sob as “amarras” de um gênero, no caso o de “filmes de gangster”, ampliou a forma para uma consistência rígida narrativa onde a personagem M (Judi Dench) e o vilão interpretado com sagacidade por Javier Bardem se complementam num triângulo de emoções que rege toda a história. Nunca Dench teve tanto destaque num filme de 007. Sua participação aqui é tão decisiva quanto imprescindível para que Mendes estabeleça sua fixação digamos, de discurso, ao adentrar esse universo. Bardem é o contraponto da alcunha uma vez que seu vilão é formatado pela verve do clássico indestrutível, porém o diretor só confiaria um personagem assim nas mãos de um ator como o espanhol. Lembrando em muitos aspectos o coringa de Heath Ledger, é um tipo que já nasce para ficar na história.

Daniel Craig anda dizendo que está velho para interpretar Bond, porém são as aparentes rugas ilustrativas de sua atuação que tornam digna a sua incorporação mítica. Há muito tempo que vivemos num tempo de decadência da figura heroica, mesmo as cinematográficas. E isso contribui para uma assimilação com espectador: quanto mais próximo do mito, mas enxergamos e nos identificamos como homem, dentro de fragilidades e perspectivas. Talvez esse seja mesmo o melhor filme da franquia 007 justamente pela lupa que Sam Mendes coloca sobre a vulnerabilidade do arquétipo de Bond, tornando isso o esteio principal de toda a trama. Assim, mais até do que caçador de mitos, Mendes revela-se dessa vez um terapeuta de heróis, onde seus conflitos serão sempre os verdadeiros superpoderes.

[xrr rating=4.5/5]

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