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Cinemateca: “Se Meu Apartamento Falasse” e o toque de Midas de Billy Wilder

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Você conhece a expressão “feel good movie”? Ela é usada para descrever todo filme perfeito para dar uma injeção de ânimo e abrilhantar o dia de quem o vê. “Se Meu Apartamento Falasse”, considerado um dos melhores, senão o melhor, filme de Billy Wilder, se encaixa nesta categoria. E olhe que Wilder parte de uma das premissas mais condenáveis da história da ficção.

C.C. “Buddy” Baxter (Jack Lemmon) é só mais um entre as dezenas de funcionários de uma companhia de seguros. Na tentativa de subir de cargo, ele empresta a chave de seu apartamento para que seus chefes usem o lugar para encontros com as amantes. Não soa como uma comédia de jeito nenhum. Ainda mais quando o chefão de Buddy, Sheldrake (Fred MacMurray) leva a bela ascensorista do prédio da companhia, Fran Kubelik (Shirley MacLaine) para um encontro furtivo. Quando ele promete a ela mundos e fundos e a abandona, Fran decide cometer suicídio. Tudo isso dentro do apartamento de Buddy.


O que era Billy Wilder? Um diretor de dramas que tinham uma pitada de ironia ou de comédias de humor negro? É impossível classificá-lo neste sistema 8 ou 80, mas podemos defini-lo como um transgressor. Era um fora-da-lei de Hollywood. Na época em que assuntos ligados ao sexo eram tabu no cinema, ele fez filmes como este, onde um personagem transforma seu apartamento em motel e isso vira moeda de troca no seu trabalho. Um ano antes, Wilder havia vestido o galã Tony Curtis e o mesmo Jack Lemmon de mulheres em uma comédia em que, como o próprio título sugere, “Quanto mais quente melhor”. E, surpresa maior: apesar destes “desvios”, os personagens de Wilder são carismáticos à beça.

E é impossível não gostar de um personagem interpretado por Jack Lemmon. Este é o segundo dos sete filmes que ele faria com Billy Wilder. Na primeira produção conjunta, Jack alcançou o ponto máximo de sua carreira cômica com Joe, um músico que se veste de mulher para despistar gângsteres em “Quanto Mais Quente Melhor” (1959).  Joe / Daphne abraça seu lado feminino e faz qualquer um rolar de rir. Não foi à toa que Lemmon foi indicado ao Oscar de Melhor Ator, mas infelizmente a Academia não reconheceu o brilhantismo daquela atuação arriscada.

Outro traço marcante de Wilder é o fato de ele tirar alguns atores da zona de conforto, e o melhor exemplo disto é Fred MacMurray. A carreira de Fred foi construída em cima de comédias leves. Nos anos 60 ele chegou a ser um favorito dos estúdios Disney: era o professor aloprado original ou o pai que todas as crianças queriam ter. Mas seus dois melhores e mais lembrados papéis foram against type, e em filmes de Billy Wilder: o vendedor de seguros Walter Neff, que descobre da pior maneira possível que a carne é fraca em “Pacto de Sangue” (1944) e o inescrupuloso Sheldrake de “Se Meu Apartamento Falasse”.

Esta pérola de Wilder ganhou cinco Oscars, incluindo Melhor Filme e Diretor, o que é raro para uma comédia. Entretanto, um dos segredos do sucesso de qualquer filme cômico é um roteiro consistente, e isso Wilder sempre conseguia com seu parceiro e roteirista I.A.L. Diamond, com quem trabalhou em 12 filmes ao longo de 25 anos.

É difícil dizer o que torna “Se Meu Apartamento Falasse” um “feel good movie”: seria o elenco, as frases certeiras, o roteiro? Ou talvez tudo junto no caldeirão efervescente de Hollywood? Não importa: o todo, aqui, foi o melhor resultado possível da soma de suas partes.

Dica: “Se meu Apartamento Falasse” (1960) é a atração de 7, 8 e 11 de fevereiro nas salas Cinemark

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