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Dzi Croquettes

Aparentemente, eu sou o único morador do Rio de Janeiro que nunca antes ouviu falar dos Dzi Croquettes, um grupo performático transformista que só queria ser feliz, mas acabou revolucionando o teatro brasileiro e encantando multidões no Brasil e na Europa. Liza Minelli, Omar Shariff, Nelson Motta, Gilberto Gil, Jeane Moreau e o diretor Claude Lelouch estavam entre seus grandes fãs.

Formado no início dos anos 70 pelo cantor e dançarino americano Lennie Dale e o comediante Wagner Ribeiro – com influência e inspirados no nome dos americanos The Cockettes – o grupo se estabeleceu com 13 atores/músico/performers que trazia aos palcos, em plena ditadura militar, sua comédia musical irreverente, andrógina e elegante. Os 13 membros apresentavam números de dança semi-nus – na maioria das vezes, vestiam apenas tanguinhas e pedaços retalhados de roupas – contendo inúmeras referências culturais – e, veladamente, políticas. Foram os precursores do besteirol que imperou no humor brasileiro nos anos 80.  A frase que definia os Croquettes era “Nem homem, nem mulher: gente”. Eles queriam quebrar tabus sociais e sexuais por meio do deboche e da irônia e abriram a cabeça de muitos jovens artistas, que os seguiam fervorosamente como grandes tietes – aliás, um dos melhores depoimentos  contidos no filme explica o surgimento desse termo.

Nos últimos anos, o número de documentários produzidos no Brasil tem crescido de maneira empolgante (ou alarmente, para alguns), muitas vezes com temas que realmente merecem um longa metragem, mas poucos são tão bem acabados e (quase) redondinhos como esse Dzi Croquettes. Bem montado, decupado e provido de ótimas e raras cenas de arquivo, Dzi Croquettes conta de maneira apaixonada e muito bem humorada uma história carregada de melancolia fora das telas – afinal, oito dos membros já faleceram. Muito dessa paixão vem de um dos diretores, Tatiana Issa (o outro é Raphael Alvarez, ambos estreantes na direção), atriz que foi criada em meio à trupe, com a qual seu pai trabalhou entre os anos de 1976 e 1980, na Europa, onde a trupe fez grande sucesso após ter seus espetáculos censurados no Brasil. O filme é, de uma forma, o seu tributo ao pai.

Essa ligação emocional da diretora com o filme é bastante saudável percebe-se o carinho que ela tem com o tema por todo o filme, mas é também a culpada de seus poucos pontos baixos. Em algumas intromissões um tanto aleatórias, Issa aparece narrando seus pensamentos sobre aquele tempo em que ela dormia nas cadeiras de teatro, nos intervalos de apresentações do grupo. Entendo a vontade de querer expressar aquelas lembranças e emoções, mas eles algumas vezes soam constrangedores.

Um outro ponto me irritou no início da projeção, mas depois se mostrou totalmente justificado. Entre os depoimentos dos cinco sobreviventes e imagens de arquivo com relatos de outros já falecidos, o documentário é recheado – em torno de 45 – de depoimentos de artistas e pessoas que vivenciaram aquilo tudo, com muita ou pouca ligação ao grupo. O que me parecia supérfluo se mostrou uma bela homenagem e permeou o filme de anedotas e histórias curiosas, montando um panorama de como e quem, exatamente, os Dzi Croquettes mudou as vidas. Entre os melhores depoimentos estão os de Liza Minelli, Elke Maravilha, Betty Faria e, surpreendentemente, Pedro Cardoso, que faz alguns dos comentários mais lúcidos sobre o modo de viver e fazer arte do grupo.

A história da família Dzi Croquettes merecia ser bem contada e foi. O filme tem colecionado prêmios merecidos, como melhor documentários no Festival do Rio e na Mostra Internacional de São Paulo. Ela merece ser assitida e, se você não tem quaisquer preconceitos e gosta de teatro, cinema e artes em geral, passa a ser um filme obrigatório.

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