A ambição de Joseph Kosinski o trouxe para a terra, trocando as manobras de caças pela alta velocidade das pistas de corrida. “F1” é mais um filme que explora, de forma bastante espetaculosa, a modalidade de automobilismo mais popular no mundo, mas de prestígio menor nos Estados Unidos. Todavia, ao contrário de “Rush: No Limite da Emoção”, que se trata de uma cinebiografia focada na rivalidade dos pilotos Niki Lauda e James Hunt, aqui o que temos é uma ficção, que se entrelaça com fatos reais, mas, ainda assim, ficcional.
Nesse aguardado retorno do diretor de “Top Gun: Maverick”, uma lenda das pistas decide sair da aposentadoria para guiar a nova geração rumo ao topo. Brad Pitt interpreta Sonny Hayes, um veterano da Fórmula 1 que retorna ao volante com a missão de ajudar o promissor Joshua Pearce, vivido por Damson Idris, a conquistar seu espaço na escuderia fictícia ApexGP. Enfrentando desafios dentro e fora dos circuitos, Hayes desenvolve um plano ousado para levar a equipe à vitória, contando com o apoio de técnicos e figuras-chave do universo das corridas.

Kosinski contou com o apoio do chileno Claudio Miranda, mesmo diretor de fotografia do blockbuster de 2022, para dar mais imersão nas cenas de corrida tão impressionantes quanto as sequências aéreas em “Maverick”, adotando mais uma vez as câmeras IMAX para esse fim. O resultado, inclusive, lembra bastante as produções no formato na época das películas, normalmente destinadas a parques de diversões ou salas que traziam o selo e exibiam apenas filmes curtos desenvolvidos especialmente para esse tipo de exibição.
As filmagens ocorreram durante vários fins de semana de Grandes Prêmios ao longo das temporadas de 2023 e 2024, incluindo o fim de semana do GP da Inglaterra, em julho de 2024, no autódromo de Silverstone, no Reino Unido. Foi construída uma garagem exclusiva da equipe fictícia de Fórmula 1, posicionada entre os boxes reais das escuderias Mercedes e Ferrari. Esse espaço foi utilizado para registrar diversas cenas, além de incluir uma área dos boxes, de onde os personagens coordenavam a corrida. Esse mesmo cenário, inclusive, foi reaproveitado em outras etapas europeias da temporada da F1. Tudo isso deu ao filme um tom realista, quase documental, com uma ambientação que envolve o espectador, sobretudo os fãs de automobilismo.

Kosinski comanda a direção com personalidade e de forma arrojada. As câmeras no cockpit dos pilotos pode até parecer um recurso banal para filmagens desse tipo, mas ele o faz com um refinamento que o diferencia. A impressão que fica é que sua intenção é se firmar no hall dos outro cineasta autorais com viés de espetáculo, como Christopher Nolan e Denis Villeneuve.
O roteiro assinado pelo diretor e Ehren Kruger, um dos roteiristas de Maverick, possui estrutura semelhante à do filme estrelado por Tom Cruise. A construção da personalidade de Hayes lembra a de Maverick em diversos pontos, assim como seu arco. Ainda assim, classificar “F1” apenas como um “Top Gun: Maverick” das pistas é injusto, uma vez que, apesar das semelhanças, o filme possui uma identidade própria e acerta em contar uma história aliciante, apesar de um tropeço aqui e ali, e alguns descompromissos com a verossimilhança, embora se venda colocando o realismo como chamariz.

Brad Pitt, que também produz, constrói o protagonista com carisma, e mesmo tendo postura e atitudes questionáveis em alguns momentos, estabelece empatia com o espectador. Quando menos se percebe, estamos torcendo por ele e por aquela pequena escuderia. Os embates com o jovem JP que delineiam a trama se valem do bom script. É o velho conflito de gerações, mas colocado com dinamismo da mistura de drama com humor. Ponto também para a atuação do jovem Damson Idris. A participação de Javier Bardem, no papel de outro veterano, abrilhanta a trama, assim como a irlandesa Kerry Cordon no papel de Kate, integrante da equipe da Apex que se torna interesse amoroso de Hayes. Eles funcionam, cada um a seu modo, como contenção do caráter impulsivo do piloto, que, apesar de ter envelhecido, continua desafiando limites dentro ou fora do cockpit.
“F1” tem como um dos produtores o heptacampeão mundial Lewis Hamilton, o que também ajuda a conferir uma visão autêntica do esporte, refletindo a intensidade e os desafios emocionais vividos pelos competidores, além das políticas internas e a pressão implacável dos bastidores do “circo da Fórmula 1”. Para os brasileiros há uma referência central na trama que torna a trajetória de Hayes até mais interessante. É irresistível lembrar de “Dias de Trovão”, em que o diretor do primeiro “Top Gun”, Tony Scott, também se aventurava pela seara da velocidade (no caso a Nascar, muito mais popular nos EUA). Mas, assim como fez em “Top Gun Maverick”, Kosinski se saiu melhor na empreitada e nos proporciona um dos melhores filmes de corrida já feitos.