Podemos sim dizer que estamos vivendo um período bastante interessante para o gênero terror. Apoiado na atávica atração da humanidade pela sensação de medo, desconforto e insegurança, as ofertas dentro dessa seara não cessam, e, ao contrário de outras categorias cinematográficas, renovam-se. “Fale Comigo” (“Talk to Me”), nova pro é um bom exemplo, egresso da escola indie australiana e que está ganhando o mundo.
Quando um grupo de jovens descobre como conjurar espíritos usando uma mão embalsamada, eles ficam viciados na nova emoção, até que uma pessoa da turma vai longe demais e abre a porta para o mundo espiritual, forçando-os a escolher em quem confiar: os mortos ou os vivos.

Das mesmas produtoras Samantha Jennings e Kristina Ceyton, que fizeram “The Babadook”, outro exemplar da leva do novo terror feito na Austrália (que já se tornou cult), Fale Comigo também mostra frescor e inventividade, surpreendendo o espectador na maior parte do tempo. Os irmãos gêmeos Michael e Danny Philippou são oriundos da internet, donos do canal no YouTube RackaRacka que apresenta um conteúdo de terror e comédia ao vivo, incluindo paródias de Harry Potter, Marvel ou Star Wars. Eles também trabalharam na parte técnica de “Babadook”. O approach com a linguagem bem assimilada pelos jovens, aliada à bagagem que adquiriram como fãs de cinema de todas as épocas é o que torna o filme atrativo tanto para o público mais novo, quanto para os veteranos fãs do gênero. Danny Philippou escreveu o roteiro juntamente com o seu colaborador do “RackaRacka”, Bill Hinzman.
O elenco é bastante fresco. A talentosa Sophie Wilde (da série “Vocês Não Me Conhecem e do filme “O Portal Secreto”) encabeça o elenco com segurança interpretando a protagonista Mia. Em seu primeiro papel principal em uma produção cinematográfica, ela transpõe as armadilhas do clichê sendo a peça fundamental e convincente para instaurar a confusão na cabeça do espectador. Alexandra Jensen também cumpre satisfatoriamente com o papel de Jade, melhor amiga de Mia que se vê em meio às reviravoltas desencadeadas pela versão radical brincadeira do copo, junto com seu irmão mais novo, Riley (Joe Bird).
Vale destacar também o elenco de veteranos que conta com Miranda Otto (a Ewyn de O “Senhor dos Anéis: As Duas Torres” e “O Retorno do Rei”), que interpreta a mãe de Jade e Riley, além de assinar como produtora. Ela representa a repressão e preocupação adulta da trama, mas com muita simpatia e carisma, que livram a personagem da imagem de chata. Mesmo com pouco tempo em tela, Marcus Johnson desenvolve uma atuação consistente no papel de Max, o pai distante de Mia.

A fotografia de Aaron McLisky ajuda a compor o clima pretendido, e as temperaturas são utilizadas a contento, revelando a inevitável influência de clássicos do gênero dos anos 70 e 80, além da New Wave of Australian Film.
Por fim, “Fale Comigo”, apesar de apresentar algumas leves escorregadelas, típicas do gênero em questão, é uma boa pedida, focando mais no enredamento no que no susto, o que para alguns pode ser um demérito, mas bem visto por quem não abre mão da sensação de uma trama instigante. Tem potencial para virar franquia, o que não deve tardar.