Festival do Rio: "A Casa que Jack Construiu" é Lars von Trier advogando em causa própria

Festival do Rio: "A Casa que Jack Construiu" é Lars von Trier advogando em causa própria – Ambrosia

Que o dinamarquês Lars von Trier gosta de causar não é novidade para ninguém. A cada filme, a cada participação em festival de cinema, o cineasta faz questão de não passar incólume e render notícia. Talento ele sempre teve, o que ficava claro já nos tempos de Dogma 95. O problema é que com o passar dos anos ele foi se tornando refém desse personagem controverso que criou para si mesmo. “A Casa que Jack Construiu” é uma prova cabal disso. Seu primeiro filme depois do (obviamente) polêmico “Ninfomaníaca” parte de uma premissa interessante, mas escorrega na obsessão de von Trier em chocar o público.
A trama se passa nos EUA na década de 1970. Somos apresentados aos assassinatos que definem o desenvolvimento de Jack (Matt Dillon) como um serial killer, ao longo de 12 anos. Do ponto de vista de Jack, cada assassinato é uma obra de arte em si. À medida que a inevitável intervenção policial se aproxima, ele vai assumindo riscos cada vez maiores em sua tentativa de criar a arte final. Isso é ilustrado (ou justificado) com as descrições de Jack de sua condição pessoal, problemas e pensamentos, através de uma conversa recorrente com um desconhecido.

O mergulho na psiqué de Jack é o trunfo do roteiro. Assim como em “Ninfomaníaca”, a história se constrói sob episódios narrados pelo personagem. E mesmo apesar das atrocidades, vemo-nos compelidos a simpatizar com ele, chegando até a entender por que ele cometeu os assassinatos. Nessa parte, von Trier é genial. Genial ao revestir o personagem sob uma mistura grotesca de sofisma com uma autopiedade quase infantil e explicações psicopáticas. No final das contas, trata-se de um conto humorístico filosófico. O problema é que para isso, von Trier (que também assina o roteiro) se vale de forma exagerada de cenas chocantes de violência, mostrando explicitamente coisas como mutilação e taxidermia. Ali entra em cena a criança birrenta que se comporta mal para chamar atenção que von Trier se tornou. Sua estratégia é fazer o longa grudar na retina por suas bizarrices. Claro que não faz sentido em tratar um tema como esse de forma suave, mas a maneira pueril com que quer ilustrar a violência incomoda. Sem contar que o fato de as vítimas serem sempre mulheres ou muito azucrinantes ou desprovidas de inteligência parece uma provocação ao empoderamento feminino.
“A Casa que Jack Construiu” na verdade é uma forma de von Trier advogar em causa própria. O personagem do título – vivido por Matt Dillon em sua melhor performance em muito tempo – funciona como alter ego do diretor. Crença de Jack na monstruosidade como uma brilhante manifestação artística se concatena com von Trier em sua estética contundente e suas declarações. No entanto, essa legitimação poderia ter sido feita com um pouco mais de maturidade. Do jeito que ficou, parece só uma resposta malcriada aos desafetos.

Cotação: 2.5/5 – Regular

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