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Festival do Rio: “O Fim” é uma fábula de contornos inusitados

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Com o perdão do duplo sentido, Gérard Depardieu é um ator de inegável grandeza. O corpulento ator francês – que tem 221 filmes no currículo e se naturalizou russo para fugir dos impostos de seu país – protagoniza o novo filme do diretor Guillaume Nicloux, “O Fim”. E não é nenhum exagero dizer que Depardieu leva a película nas costas, afinal, seu personagem, creditado apenas como “L’homme” (O homem) é o fio condutor solitário de uma jornada intra-pessoal de contornos um tanto quanto inusitados.

Na trama, o protagonista é um caçador que parte com seu cão para uma floresta próxima para exercer sua atividade. Isso até que o animal desaparece, e, tentando achá-lo, ele acaba se perdendo no meio da floresta. Daí, Sua excursão breve progride de uma atividade despreocupada com uma sensação palpável de não estar em lugar nenhum. A partir daí, é construída uma saga do personagem para sobreviver e escapar da floresta a princípio inofensiva que se torna um cenário opressor e imprevisível.

Nicloux, que também assina o roteiro é feliz no que propõe, mas fica nítido que se atrapalhou um pouco no acabamento do script. O primeiro terço da fita indica um caminho, mas comete alguns excessos desnecessários no terço derradeiro, o que compromete o resultado final. Porém, o filme conta com um trabalho de direção competente amparado por uma bela fotografia, e, é claro, com o talento de Depardieu. O veterano ator, que esteve no Brasil no último mês, mostra em cada quadro a diferença que há quando se tem um nome de peso (mais uma vez com o perdão do duplo sentido) encabeçando o elenco.

Em uma interpretação minimalista, ele gera empatia, dá na medida certa a credibilidade e o naturalismo que o roteiro propõe. Provavelmente o resultado seria catastrófico se um ator menos experiente se aventurasse pelo dadaísmo estético e narrativo proposto por Nicloux. A jornada solitária de “O homem” tem contornos fabulares, mas como se houvesse uma adaptação fidedigna dos contos dos irmãos Grimm, da forma sombria como foram concebidos. Assim como nos assustadores contos infantis, o cenário tem uma relevância fundamental e é colocado também como um personagem. A floresta fica bem próxima ao perímetro urbano e paradoxalmente ganha característica de uma outra dimensão. Nesse ponto, a direção de Nicloux tem seu grande acerto.

“O Fim”, apesar de alguns problemas, é válido como exercício cinematográfico de diretor, e atinge o desiderato de deixar o espectador coçando a cabeça do início até os créditos finais.

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