“1001 Gramas” (“1001 Gram”, Nouega/França/Alemanha, 2014) é o sétimo longa-metragem do diretor norueguês Bent Hamer (“Em Casa Para O Natal”), e que constou recentemente na programação do Festival de Toronto. Na trama, Marie (Ana Dahl Torp) é uma cientista norueguesa recém divorciada, especializada em medidas, que tem como função fiscalizar pistas de esqui. A cúpula do instituto de medida onde trabalha apresenta um quilo de peso perfeito, modelo para todas as medições feitas no país, e Marie fica incumbida de levá-lo a Paris em sua estreia na principal conferência da área, substituindo seu pai, uma lenda entre os cientistas, mas que se encontra debilitado.
O script serve de fio condutor para um exercício estético cinematográfico ao mesmo tempo de uma reflexão existencial genuína. No primeiro, item podemos considerar que a película foi até bem sucedida. Hamer soube trabalhar com maestria planos contemplativos, muito bem geridos pela bela fotografia de John Christian Roselund, além de estabelecer enquadramentos que surtem efeitos bastante interessantes. Na outra ponta do vértice está a montagem do filme, imprimindo o ritmo adequado à proposta artística. Já no que tange à asserção reflexiva, o filme não cumpre o que promete a princípio.
Estabelece um paralelismo entre as medidas e os anseios inerentes à existência, além de discutir a (im)possibilidade de realmente mensurar o real sentido das coisas. Muito pertinente, mas a impressão que fica é que faltou coragem, ou talvez competência, para explorar isso a fundo. Ok, corria-se o risco de transformar o filme em algo cerebral demais, porém fica ainda mais vexatório deixar o serviço pela metade, tornando a coisa superficial para quem estava disposto a enfrentar algo mais substancioso no momento em que já perdera completamente aqueles que estivessem buscando apenas um entretenimento.
E ainda tratando de medidas, somos obrigados a ouvir em uma cena se aproximando do final uma piada com uma peculiaridade métrica anatômica do parceiro de Marie, que além de infame destoa completamente do tom estabelecido no filme inteiro. Por fim, devido à falta de coragem para estabelecer a complexidade proposta, estagnando em uma incômoda (e por vezes vergonhosa) superficialidade é que “1001 Gramas” compromete até mesmo sua interessante proposta artística.