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Festival do Rio: Moebius

Um aviso muito importante para quem for assistir a “Moebius” (Idem, Coréia do Sul/2013) nesse último dia de festival ou quando (se Deus quiser) estrear em grande circuito: não esperem ser entretidos. O novo filme de Kim Ki-Duk passa ao largo do entretenimento fácil, compreensível e palatável. É o tipo do filme que os cinéfilos mais corajosos, quando sentados na sala de exibição, às vezes pela segunda ou terceira vez, gostam de ir contando quantas pessoas vão saindo da sessão no meio do filme. Moebius causa desconforto, irritação, asco, raiva e até admiração.
Nos dias de hoje, são poucos os cineastas que têm tamanha coragem de realizar peças como essa. Em Hollywood, essas aves raras já se extinguiram ali pelo meio dos anos 80, quando todo mundo encaretou. Talvez apenas Terrence Malick ainda mantenha a verve. Na Europa, de um modo geral, a produção cinematográfica mainstream ainda é bastante careta. A salvação está na Ásia, principalmente na Coréia, terra também do aclamado Park Chan Wook, responsável por “Oldboy”, o filme que fez o Ocidente voltar os olhos para a produção cinematográfica daquele país ao sul de uma ditadura louca e com um dos maiores IDHs do mundo.
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Aqui, o diretor, também responsável pelos também pouco ortodoxos “Pietá” e “A Casa Vazia”, desafia o espectador a ter sangue frio de acompanhar uma crise familiar, desencadeada por uma traição do marido, levada às últimas (eu digo últimas) consequências. Essa crise será o fio condutor de um verdadeiro ensaio sobre a insanidade e bestialidade humanas, como aquilo que há de mais perverso e se erige em momentos determinados, quando somos postos ao limite. A civilização é uma grande farsa, criada por nós mesmos com medo do perigo e do poder de nosso lado selvagem, talvez o mais devastador e nocivo do reino animal.
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Como dizia o cartaz de “Amarelo Manga” de Cláudio Assis (outro grande provocador) “o ser humano é estômago e sexo”. Já Kim Ki-Duk diria que somos cólera e sexo. Essa seria a frase que melhor traduziria a ideia geral do filme. Provocações e polêmicas à parte, há de se falar também na apurada parte técnica, que pode ser muito bem apreciada nesse período de festival, em que os cinemas cariocas surpreendentemente ajustam o foco e a luminosidade de seus projetores e equalizam decentemente seu sistema de som para sair bem na foto, claro. O cineasta foi multitarefa na produção. Foi o responsável pela bela fotografia (uma especialidade da escola asiática), pelo ótimo trabalho de edição, além de produzir e escrever.

O filme não tem diálogos. Ao longo de toda a projeção não se ouve a voz dos atores, apenas gritos, gemidos e grunhidos. O estranhamento dos primeiros 20 minutos passa à medida que o espectador se vê envolto naquele drama tenaz. No final das contas, vemos que as linhas de diálogo nem fazem falta. Não há nada a ser dito na trama, qualquer frase, oração, palavra emitida ali acabaria soando redundante e desnecessariamente explicativa. Foi um difícil trabalho de direção e de interpretação da parte dos atores que surtiu efeito. Moebius é um Cinema feito para espectadores ávidos por serem desafiados, gostando ou não ao final do que assistiram. Certamente passará longe da unanimidade, mas gerará discussões acaloradas. Ponto para Kim Ki- Duk

[xrr rating=4/5]

Próximas exibições:

Quinta, 10/1017:50São Luiz 3SL355
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