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Festival do Rio: "O Amor é Estranho" e a dura percepção do viver

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O Amor é Estranho é um drama intimista que ousa tirar o sentimento do pedestal do senso comum. Só por isso, já vale ser visto e assimilado. O diretor Ira Sachs parece ter algum tipo de obsessão nessa desconstrução. Seu filme anterior, o badalado Deixe a Luz Acesa (2012) já ia fundo nos imponderáveis de uma relação amorosa, agora, Ira toca na questão do aprofundamento do tempo e da circunstância numa relação duradoura. George (Alfred Molina) e Ben (John Lithgow) vivem um relacionamento estável de 40 anos. Até que decidem casar no papel. o que implica na demissão sumária de George, o que os obrigam a recorrer à ajuda de familiares e amigos para terem onde morar. Acabam tendo que se separar momentaneamente e, com cada um em uma casa, surgem os conflitos.
love-is-strangeO roteiro é do brasileiro Maurício Zacharias (colaborador recorrente do diretor Karin Ainouz), junto com o próprio diretor, e não trata a questão com piedade, mas explora as percepções contidas no incômodo da situação, daí é com muita destreza que vamos acompanhando o constrangimento dos parentes hóspedes, o sentimento de inadequação diante do território desconhecido e o fortalecimento da lealdade que há entre aqueles dois homens, que se amam, lidando bravamente com o tempo. Há uma ligeira perversidade que perpassa os que estão diretamente envolvidos na problemática dos dois, mas uma perversidade crível e até inescapável dada a desromantização um tanto real da situação. Lithgow e Molina – como não poderia deixar de ser – estão soberbos, construindo uma relação comovente diante da necessidade mútua de estarem juntos. Essa é uma das grandezas do filme: como a atuação e a direção tornam sólida essa necessidade. O Amor é Estranho principalmente quando, no final, é preciso transcender do elo entre os dois, para compreender algo perturbadoramente mais simples: a vida.

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