É, no mínimo, curioso que na reta final da franquia cinematográfica Jogos Vorazes, seu discurso trombe exatamente com sua realização. É essa a sensação que Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1 deixa ao fim de sua interminável duração. Todos sabemos que o filme, baseado no best-seller literário homônimo escrito por Suzanne Collins, é um retrato crítico e alegórico sobre uma sociedade distópica diante de um regime opressor.
Como cinema, o filme se submete justamente ao sistema, sacrificando sua força discursiva na diluição da narrativa em dois filmes para contar a trama do último livro. Medida cada vez mais comum nas superproduções hollywoodianas e que nunca funciona realmente bem (no caso radical de O Hobbit então, é desastroso), o oportunismo “monetário” prejudica muito o longa.
Com roteiro burocrático de Peter Craig e Danny Strong, a história vai se arrastando para mostrar nossa heroína Katniss (Jennifer Lawrence) diante da possibilidade de se rebelar maciçamente em nome de uma resistência. São dezenas de cenas desperdiçadas, reiterativas e banais, num claro indício de “encheção de linguiça” para comportar duas produções de uma mesma linha narrativa.
Tudo isso deixa o filme muito, mas muito cansativo. Tanto que nem dá para absorver seus bons pontos altos como o caminho dramático traçado para Peeta (Josh Hutcherson, cada dia mais interessante), as intrigas político-ideológicas que adensam a trama, e até o final (!), que acaba prejudicado pela irregularidade da direção de Francis Lawrence, que busca uma complexidade vazia e atravanca o dinamismo tão característico da série.
No fim, Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1 nem chega a preparar para um grand finale. Ele apenas se revela o quão vendido pode se tornar um discurso.