Cultura colaborativa! Participe, publique e ganhe pelo seu conteúdo!

“La Sapienza” é um exercício cinematográfico que se dilui em trama inconsistente

“A sapiência é a mais ativa do que qualquer ação, pois é um reflexo da luz eterna”.

Com esses dizeres que se inicia “La Sapienza” (idem, França/Itália, 2014). Sant’Ivo alla Sapienza ou Igreja de Santo Ivo em La Sapienza é uma igreja localizada em Roma, Itália, construída entre 1642 e 1660 pelo arquiteto Francesco Borromini. A construção é considerada uma das obras primas do barroco romano e está localizada no fundo de um pátio no Corso del Rinascimento. O complexo onde fica a igreja abriga atualmente o Arquivo Municipal.

A obra arquitetônica serve de mote para a trama em que acompanhamos Alexandre Schmid (Fabrizio Rongione), um brilhante arquiteto que, atormentado por dúvidas e perda de inspiração, embarca em uma missão de renovação artística e espiritual guiada por seu estudo de Borromini. Sua esposa Aliénor (Christelle Prot), similarmente perturbada com a intransigência e pouco caso da sociedade contemporânea -, bem como a falta de comunicação e paixão do casal – decide acompanhá-lo.

Em Stresa, conhecem os irmãos adolescentes Goffredo (que está prestes a iniciar seus próprios estudos de arquitectura) e sua irmã frágil Lavinia, que mudam os planos originais do casal. Enquanto Alexandre se junta ao jovem Goffredo, que pretende iniciar seus estudos de arquitetura, Aliénor estabelece uma conexão com Lavinia, que, apesar de doente, encara a vida e o mundo de uma forma que faz Aliénor repensar conceitos.

La Sapienza traz nitidamente influências do neorealismo italiano de Rosselini, da Nouvelle Vague, além do cinema de Antonioni, certamente a inspiração mais forte. O cineasta novaiorquino Eugène Green empreende aqui um exercício de linguagem estética que infelizmente se perde devido à falta de estofo do argumento. Se os planos, enquadramentos que se alinham às formas geométricas arquitetônicas e, principalmente, a fotografia ajudam muito (Itália é uma grande aliada dos diretores de fotografia), o desenvolvimento dos personagens e da narrativa deixa muito a desejar.

A busca por um real sentido existencial de Alexandre renderia muito mais do que um tour guiado pelas beleza das construções, assim como a inquietude de Aliénor em relação a como o espaço urbano é distribuído de forma a alijar o avanço social poderia ganhar mais espaço. O que temos é uma trama arrastada, que sempre deixa a impressão de que no próximo ato acontecerá alguma reviravolta, um fato gerador de conflito, e a expectativa é imediatamente frustrada pelo roteiro também assinado por Green. Talvez o momento que pode despertar mais curiosidade seja mesmo o que o diretor surge no papel de um refugiado iraquiano à espera de um visto para a França.

No fim, La Sapienza é uma bela promessa que não se concretizou provavelmente pelo excesso de ambição em desencadear um pensamento mais profundo, porém sem a devida condução para este fim.

Compartilhar Publicação
Link para Compartilhar
Publicação Anterior

Quero ser Ziraldo – espetáculo em homenagem aos 82 anos do cartunista, estreia com músicas originais de Mart’nália e Maíra de Freitas

Próxima publicação

“Nocaute” quase beija a lona, mas é salvo por Jake Gyllenhaal

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Leia a seguir