Quando “M3gan 2.0” foi anunciado, era previsível, e ainda assim preocupante, já que o mais provável era que fosse seguir a fórmula já consagrada das continuações. Tal esquema consiste em repetir o que deu certo, acentuando os elementos que mais renderam êxito. “M3gan” foi um filme lançado em 2022, dentro da engenharia marota da Blumhouse de longas de terror. Para o segundo título, o estúdio buscou um caminho diferente e , até de certa forma, ousado.
Dois anos depois dos acontecimentos do primeiro filme, Gemma (Allison Williams), a criadora da assustadora e demoníaca boneca assassina, tornou-se uma autora de renome e defensora da regulamentação governamental da inteligência artificial. No entanto, sua nova postura não agrada em nada sua sobrinha de 12 anos, Cady (Violet McGraw), que resolve se rebelar contra a supervisão rígida da tia. Paralelamente, um influente empresário se apropria da tecnologia do protótipo de Megan com intenções sombrias: desenvolver uma arma militar devastadora chamada Amelia (Ivanna Sakhno) — uma agente espiã altamente treinada e sem restrições morais. Porém, Amelia adquire consciência própria rapidamente e passa a desafiar ordens humanas, tornando-se uma ameaça crescente de destruição.

Se em M3gan era possível fazer uma analogia com Brinquedo Assassino, já partia da possibilidade de brinquedos criados inicialmente para entreter se tornarem uma ameaça – algo que sempre fascinou os criadores de histórias de terror -, aqui o paralelo que se pode traçar é com… “O Exterminador do Futuro”. Exatamente o que foi lido. “M3gan 2.0” é um embate entre duas IAs, sendo que a primeira, que era uma ameaça na trama original, agora está do lado da mocinha contra uma inimiga mais letal e mais avançada tecnologicamente.
O “trunfo”, se é que se pode dizer assim, dessa sequência é justamente abraçar a galhofa e a diversão sem compromisso. O terror é deixado de lado e no lugar entra um sci-fi trash bem ao estilo de títulos B das locadoras dos anos 1980. O diretor Gerard Johnstone, que também assina o roteiro, a partir do argumento de Akela Cooper (roteirista do original) desta vez, não demonstra o menor constrangimento de expor as influências daquela década, que incluem até Steven Seagal e Super Máquina.

Mas por trás de todo o espírito “quanto-pior-melhor”, existe um intuito de discutir os perigos da inteligência artificial em mãos erradas. Esse tema não é novo, mas hoje se tornou o assunto do dia, já que deixou a literatura e o cinema para virar realidade. E o roteiro de Johnstone o faz, mas sem deixar com que fique soturno demais. Além disso, mesmo destoando na proposta, ele faz conexões e acenos ao antecessor, e não deixa de explorar maneirismos da personagem que a tornaram já um dos ícones do gênero.
M3gan é mais uma vez vivida pela acrobata Amie Donald, com voz de Jenna Davis, e o corpo da boneca acabou crescendo para acompanhar a altura da intérprete. Allison Williams não se afasta muito do tom da personagem no primeiro filme, apenas um pouco mais empática. Agora uma menina crescida, Violet McGraw ganha mais protagonismo e ação. Já a ameaça Amelia de Ivanna Sakhno lembra a Terminatrix de “O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas”, uma ciborgue com aparência de femme fatale eliminando os alvos com precisão e extrema frieza. Todavia, a verdadeira inspiração do diretor foi Michelle Pfeiffer em “Scarface”.

“M3gan 2.0”, como todo trash que se preze, deixa seus furos no roteiro e insere vários absurdos testando a nossa suspensão de descrença. Mas os fãs do gênero com certeza irão engajar. E fica a curiosidade sobre qual será o próximo passo da série (se de fato se converter em tal): seguir enveredando pela ficção científica ou retornar para o terror. Quanto ao tom, voltará a adotar um viés mais sóbrio ou, a exemplo de “Brinquedo Assassino”, deixar-se-á descambar para um absurdo total? A conferir.