Lançado em 19 de setembro de 2005 e prestes a completar dez anos de existência, o jornal Meia Hora se tornou um verdadeiro fenômeno no Rio de Janeiro, principalmente por suas capas (geralmente com fotos de mulheres sensuais e notas esportivas) com manchetes bem humoradas e criativas, onde os trocadilhos chamam a atenção às vezes mais do que a própria notícia que está em destaque. Feito num formato tabloide e custando muito pouco, o jornal obteve um sucesso que ninguém imaginava na Cidade Maravilhosa. Por isso, o diretor Angelo Defanti resolveu investigar os motivos que levaram a essa grande repercussão e foi atrás dos envolvidos nesse processo e realizou o documentário “Meia Hora e as manchetes que viraram manchete” (Idem, 2014). O filme conta, com muito humor, como foram criadas as manchetes mais memoráveis do jornal, mas também faz um contraponto sobre a responsabilidade que elas têm perante à sociedade, levando a uma maior reflexão sobre a importância de se fazer um bom jornalismo no nosso país.
Num cenário bem simples, pessoas que fizeram parte da história do Meia Hora contam como foi a origem do jornal e quando começaram a chamar a atenção graças às suas manchetes de duplo sentido, como a que envolvia o término do relacionamento da atriz Luana Piovani com o ator Dado Dolabella (considerada um “divisor de águas” para o tabloide). A partir dessa, outras manchetes marcantes vieram, geralmente envolvendo celebridades, esportes e questões policiais, sempre com abordagens inusitadas e com uma linguagem popular que acabou divertindo e atraindo o público, o que ajudou a aumentar bastante as vendas com o passar dos anos. Mas o filme também conta com representantes da comunidade acadêmica, que questionam o tipo de jornalismo que é feito pela equipe do Meia Hora, especialmente em questões mais sérias, como a cobertura de casos violentos, onde o sensacionalismo nem sempre parece adequado para o que deve ser noticiado.
Como se fosse dividido em duas partes, a primeira metade de “Meia Hora e as manchetes que viraram manchete” é mesmo bastante divertida, com os “causos” que jornalistas, editores e outros que passaram pelo jornal (ou ainda estão lá) contam a respeito dos melhores momentos que a publicação viveu, graças às suas capas (realmente) engraçadas. Além disso, é bastante interessante quando a edição confronta Gigi de Carvalho, a antiga dona do Grupo O Dia (o “pai” do Meia Hora), com o publicitário Giovani Marangoni sobre quem teve a ideia de criar o tabloide. Outro destaque vai para os motivos que levaram a criar segmentos, como o Gata da Hora, que mostra mulheres em fotos sensuais, mesmo não tendo corpos considerados “perfeitos”, mas que também ajudaram a tornar o jornal popular, além de depoimentos de uma das musas do tabloide, a cantora Valesca Popozuda, que deve muito de seu sucesso às capas que estamparam sua imagem.
A segunda metade, mais séria e que tira um pouco a impressão de que o documentário é “chapa branca”, é um pouco mais instigante quando alguns dos entrevistados são confrontados, a partir das observações feitas pelos professores Muniz Sodré, da UFRJ, e Sylvia Debossan Moretzsohn, da UFF, sobre questões como ética e os limites do humor ao reportar fatos no jornal, já que usar expressões como ‘pipoco’, no lugar de tiro; ‘bonde sinistrão’ para facção criminosa; ‘tá malocado’ para bandido escondido; ‘senta o dedo’, quando a polícia atira; entre outras podem até funcionar para a linguagem popular que os jornalistas usam para atrair leitores. Mas, ao mesmo tempo, podem ser interpretadas como uma certa desvalorização da vida, já que tratar assuntos sérios relacionados à violência do dia a dia com ironia pode ser algo realmente controverso. O documentário, no entanto, poderia ter ouvido outras pessoas, como profissionais de outras publicações, como o Expresso, que foi criado pelo jornal O Globo para competir com o Meia Hora e não teve a mesma repercussão, ou mesmo pessoas comuns, que poderiam mostrar a sua visão para o sucesso da publicação.
No fim das contas, “Meia Hora e as manchetes que viraram manchete” se torna um interessante documentário para quem se interessa por jornalismo e quer aprender um pouco mais sobre como criar um jornal, embora não forneça todas as respostas sobre esse trabalho para o espectador. Mesmo usando uma linguagem didática (a ponto de explicar certas expressões através de um glossário que realmente existe na publicação), o filme não cansa (até porque é bem curto, com apenas 78 minutos) e cumpre seu dever de divertir Só poderia ser um pouco mais aprofundado nas questões que levanta. Mas vale ser conhecido e conferido por todos. Corra para a banca (ou melhor, para o cinema) e aproveite.
Esse foi novidade rs!