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“O Chamado da Floresta” é correto mas sem ambições

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“O Chamado da Floresta” seria apenas mais um filme de cachorro se não fossem dois chamarizes bastante sobressalentes: a presença do astro Harrison Ford e o fato de o cão protagonista ser gerado inteiramente por CGI. Foi a forma que a Fox, que agora, fazendo parte do conglomerado Disney, atende pelo nome de 20th Century Studios, encontrou para atrair o público a uma história banal, daquelas de frequência assídua na Sessão da Tarde, e que o cinemão sempre enxerga como lucro certo.

Buck é um cão que cresceu em uma casa em Santa Clara, na Califórnia. Seu contato tão próximo com pessoas parece ter transferido a ele uma inteligência praticamente humana. Mas sua sorte muda quando é capturado para ser vendido a transportadores em Yukon, em plena época da corrida do ouro na região, no final do século XIX. Entretanto, no caminho de Buck aparecem bons homens: Perrault (Omar Sy), para quem trabalha puxando trenó com outros cães, e John Thornton (Ford), com quem posteriormente embarca em uma aventura em que encontra seu verdadeiro lugar no mundo.

“O Chamado da Floresta” é um clássico da literatura norte-americana escrito por Jack London em 1903, que teve várias adaptações, sobretudo para a TV, entre elas, “O Grito da Selva”, de 1935, estrelada por Clarke Gable, e a de 1972, “Catástrofe nas Selvas”, com Charlton Heston à frente do elenco. Em uma versão produzida em 1997, Hutger Hauer viveu o papel de John Thornton. Ford, que em “Blade Runner” viveu o policial que caçava o replicante vivido por Hauer, agora compartilha o papel com o colega falecido em 2019.

Esse também é o debut do cineasta Chris Sander em um live action. O diretor comandou sucessos como “Lilo & Stitch”, “Como Treinar Seu Dragão”, “Os Croods”, além de assinar o roteiro de “Mulan” e os argumentos de “A Bela e a Fera”, “Aladdin” e “O Rei Leão”. Mas nessa sua estreia comandando atores Sanders segue a mesma retidão do roteiro de Michael Green, que tem em sua carreira pontos altos, como “Logan” e “Blade Runner 2049”, e baixos (as bombas “Lanterna Verde” e “Alien Covenant”). Dessa forma, não espere arroubos artísticos ou uma trama surpreendente. A prioridade foi engendrar um material bem acabado e mostrar qual deve ser a linha seguida pela Fox sob a batuta da Disney.

O cão CGI é uma varredura digital de Buckley, um cão de verdade que a esposa do diretor Chris Sanders adotou de um abrigo de animais durante a produção, um cruzamento entre um pastor de São Bernardo e um escocês (um cão pastor de tamanho médio, semelhante a um border collie ou pastor australiano), a mesma raça mista de Buck no livro de Jack London. Quando os produtores viram Buckley e descobriram que ele era o mesmo tipo de raça misturada que o cachorro do livro, decidiu-se que o animal do filme seria uma digitalização de Buckley. Funcionou? Na maior parte do tempo pode até enganar os desavisados, contudo, nos momentos em que ele demonstra expressões e atitudes quase humanas, a tecnologia se denuncia.

Harrison Ford e seu inabalável carisma estão ali para dar o suporte à história de desenvolvimento trivial e, claro, garantir uma boa bilheteria. O francês Omar Sy, que tem uma grande participação apesar de não ter seu nome em destaque nas chamadas do filme, contribui com uma atuação naturalista e envolvente, gerando uma empatia imediata. Em uma comparação futebolística, ele seria o meio-campo que arma toda a jogada para o atacante (no caso Ford) estufar a rede.

Uma vez que funciona como entretenimento ligeiro, seu verdadeiro objetivo, seria injusto apontar “O Chamado da Floresta” como um filme ruim por sua pouca ambição artística. Mas sua proposta de se fincar como a adaptação definitiva da obra pode ser prejudicada justamente por isso. Como produto family friendly satisfaz sem nenhuma dificuldade. A Disney apenas deve ser cautelosa em não se apoiar nesse modelo de produção como único carro-chefe do estúdio recém-adquirido.

 

Cotação: *** Bom (3 estrelas de 5) 

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