Conversas sobre saúde mental estão na ordem do dia – e que bom que é assim. Para além do Janeiro Branco – mês de conscientização sobre a importância da saúde mental, criado em 2014 por médicos de Uberlândia – precisamos falar sobre saúde mental todos os meses, quiçá todos os dias. Por isso filmes sobre saúde mental são tão bem-vindos – como este novo O Espaço Infinito, dirigido por Leo Bello, em sua estreia como diretor solo.
Logo no começo do filme, a personagem Nina segura uma estrela, apertando-a contra o peito nu, e solta um suspiro que denota profundo sofrimento. Um líquido vermelho invade a tela branca e então descobrimos a verdade: Nina (Gabrielle Lopes) está recebendo uma injeção com calmante em um hospital psiquiátrico, depois de ter sido imobilizada numa cama.
Em flashback somos apresentados à Nina astrofísica, que luta para continuar com sua bolsa de pesquisa para que possa confirmar a existência de uma nova estrela que ela descobriu. Ela mora com o marido Téo (Wellington Abreu) e o filho Noé (Gabriel Sabino), mas acaba deixando os dois de lado, absorta que está em sua obsessão pela estrela. Também somos apresentados à mãe de Nina, que fala com um interlocutor não-identificado, numa espécie de entrevista sobre a filha.
Passamos então a saltar entre tempo presente, no hospital psiquiátrico, e passado – com cenas inclusive da infância de Nina –, até que ficamos só no tempo presente. É mais uma viagem de metáforas visuais que pura descrição dos tratamentos e doenças, o que torna o filme mais interessante e menos maçante. É também o cinema evocando a psicanálise, que acessa lembranças para chegar à raiz dos problemas.
O Espaço Infinito perde a chance de discutir saúde mental no ambiente acadêmico ao não mencionar uma causa para o distúrbio de Nina. Por vezes – muitas vezes – uma fogueira das vaidades e uma grande guerra de egos, o ambiente acadêmico adoece muita gente, e cada vez mais precisa se falar sobre saúde e doença mental na Academia. Também seria interessante explorar mais o que significa para Nina ser uma mulher na área de astrofísica que, como a maioria das ciências, ainda é dominada por homens.
Leo Bello fez um mergulho profundo nos temas de seu filme para que pudesse realizá-lo. Ele também procurou desestigmatizar – se é que esse termo existe ou aparece aqui como um necessário neologismo – a ideia de doença mental:
“O Espaço Infinito propõe um mergulho na história da personagem, desdobrando o sofrimento, de onde veio, como veio. Não propõe uma fórmula mágica para solucionar o sofrimento psíquico, mas uma trajetória, sem ponto final, pois não estamos enfrentando uma doença que precisa ser curada a qualquer custo, e essa é uma das maiores dificuldades de entender as questões da saúde mental. Ela não precisa ser curada, e sim compreendida e respeitada”
Como mais um player na conversa sobre saúde mental, O Espaço Infinito é muito bem-vindo, como já falado, e traz uma visão sensível sobre uma pessoa em um de seus momentos mais vulneráveis. Como filme, como participante numa guerra de discursos como todo filme é, ele perde oportunidades de se aprofundar em temas tão importantes quanto o tema principal. Mas como primeiro filme solo de um diretor, é realização competente que deixa um gosto de quero mais: o que será que Leo Bello fará em seguida?
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