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"O Filho de Deus" se vale da força milenar para atrair fiéis ao cinema

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O filão bíblico sempre foi garantia de êxito nas bilheterias, desde os tempos dos grandes épicos hollywoodianos. O mais recente, Noé, está aí para provar que a grande massa cristã norte americana, principalmente aquela mais fundamentalista da chamada América profunda (ou red states) está sempre disposta a comparecer em peso aos cinemas para conferir adaptações para as telonas de passagens bíblicas. Assim como no caso das adaptações de super heróis o Super-Homem é a grande barbada, a história bíblica tida como infalível é a de Jesus Cristo. Em se tratando do homem de aço, sua versão em celuloide definitiva é a de Richard Donner, já o Salvador, foi eternizado em Rei dos Reis, de Nicholas Ray.
Posteriormente a história do messias foi contada com variegadas abordagens, desde a ópera-rock ‘Jesus Cristo Superstar’, passando pela polêmica ‘Última Tentação de Cristo’, em que Martin Scorsese mostra um Jesus falível, até a encenação sangrenta da via crúcis dirigida por Mel Gibson, ‘A Paixão de Cristo’.
O principal ponto fraco de ‘O Filho de Deus’ (‘Son of God’, E.U.A/2014) é que, ao contrário das três abordagens supracitadas, não traz nenhum elemento novo. Não houve preocupação em apresentar um ponto de vista diferenciado. É o mesmo apanhado da vida de Cristo já feito em 1961, com muito mais pompa. A produção, na verdade, é um excerto de ‘A Bíblia’, minissérie de cinco horas exibida em cinco capítulos pelo History Channel nos E.U.A, e que mostrava as principais passagens bíblicas desde a Gênesis. A série obteve altos índices de audiência e no Brasil foi comprada pela Record. Especulou-se transpor a série para o cinema em versão compacta, mas, por enquanto, só o período que narra a vida de Jesus foi para as telonas. Assim, a produção traz como novidade sequências das filmagens originais que tinham ficado de fora e nova edição para a versão cinematográfica.
Porém, apesar de filmada com o escopo e a escala adaptados para o cinema, o resultado final deixa muito a desejar.

Fica aquela impressão de se estar assistindo a um filme feito para a TV. Edição padronizada, planos sem nenhuma ousadia, direção burocrática. Medo de alguma pretensão artística mais contundente roubar a cena do Messias? Medo de Deus não perdoar? Os efeitos digitais chegam a ser constrangedores. Sobretudo nos travelings panorâmicos sobre a cidade de Jerusalém e o Templo Sagrado. Parece que estamos vendo um filme da aurora do CGI, ou um cinematic de videogame barato. A atuação do português Diogo Morgado no papel principal não emociona, por vezes é até um pouco carregada de maneirismos. Os apóstolos são muito pouco explorados. Com exceção de Pedro, que ganha mais destaque na tela, os outros ou são apresentados superficialmente, ou o espectador tem que adivinhar quem é. Tomé tem sua descrença rapidamente abordada e Judas tem sua traição antecipada em sinais óbvios.
As principais passagens da História de Jesus – como nascimento, multiplicação dos peixes, cura do paralítico, ressurreição de Lázaro, estão presentes, claro, mas de maneira rasa, quase videoclipesca, sem porém deixar de reproduzir as falas escritas na Bíblia.  A trilha sonora ficou a cargo de Hans Zimmer, mas para quem conhece o trabalho do compositor (responsável pela música da trilogia Cavaleiro das Trevas) sabe que não foi usado ali nem 10% de seu potencial. A trilha soa genérica e pouco inspirada.
O Filho de Deus é apenas mais uma adaptação da vida de Jesus que não acrescenta nada em termos cinematográficos e nem como épico bíblico. Irá, com toda certeza, atrair o público Cristão aos cinemas nessa Páscoa (data oportuna escolhida pelo distribuidor nacional, nos E.U.A o filme estrou em fevereiro), por isso já entra em campo com o jogo ganho. O único trunfo da produção é mesmo a força da História que serve de matéria prima, que a preguiça dos realizadores não conseguiu diminuir.

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