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“O Homem do Futuro” é a ponta de um iceberg que o cinema brasileiro precisa topar

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O histórico ano de 2004 foi o mais importante da chamada “retomada” para o cinema brasileiro. Bilheterias históricas de filmes como Carandiru, Olga, Xuxa e o Tesouro da Cidade Perdida e Cazuza – O Tempo Não Para cimentaram um novo panorama para o segmento que, também pode ser visto como uma espécie de construção da autoestima perdida em anos de mercado sucateado por diversas vertentes que vão do poder público até o cultural desinteresse da bilheteria doméstica.

Dentro desse boom cinematográfico, eis que surgiu um exemplar de um interessante híbrido entre a inventividade e o entretenimento: o filmaço Redentor, praticamente filme de estreia do diretor Cláudio Torres (que antes havia dirigido o filme coletivo Traição, baseado na obra de Nelson Rodrigues). O filme, um devaneio curioso sobre a ganância tupiniquim muito bem produzido, dirigido e interpretado, nos dava uma noção do que a nova geração do cinema nacional estava disposta a oferecer. Gostando ou não do filme, era inegável a sensação que os caminhos de nossa cinematografia estaria calcando ambições artísticas diferentes do habitual; o que não foi efetivado, já que, de forma geral, a surrada “cosmética” social foi a tônica da esmagadora maioria dos lançamentos lá até aqui.

Torres também não correspondia a expectativa. Depois de Redentor, ele enveredou – talvez por preocupações de bilheteria, por comédias assépticas que nada acrescentavam a seu currículo. Até que, comprovando a expectativa suscitada lá trás, ele nos apresenta O Homem do Futuro.

Com traços no clássico De Volta Para o Futuro, o roteiro brinca com a possibilidade de voltar a uma situação dramática do passado para consertar o futuro. Zero (Wagner Moura, caindo muitas vezes no excesso de caricatura) consegue inventar um mecanismo para controlar o tempo, o que faz com que faça essa passagem em estágio distintos de sua persona, para poder resgatar uma relação juvenil com a bela Helena (Alinne Moraes, lindíssima).

A discussão sobre a possibilidade de mudar o rumo da vida é levantada de forma um tanto engenhosa, mas isso se justifica com uma conclusão estranhamente criativa e satisfatória.

Com efeitos especiais dignos e bem feitos, o filme tem um design de produção notável, fato esse que automaticamente nos remete ao preciosismo de Redentor. E, se levarmos em conta que a busca por um tema libertário e universal, dentro das bases do melhor do entretenimento, voltou a ser um elemento (muito bem executado) para o diretor, o filme ganha uma importância ainda mais legítima e significante.

Torres promete para seu próximo filme, uma história sobre bruxas com a mãe (Fernanda Montenegro) e a irmã (Fernanda Torres), o que já nos dá uma luz sobre o quão instigante essa espera pode se tornar…

Seria tempo de voltarmos a nos entusiasmar com possíveis (vastos) caminhos para o nosso cinema??? Essa resposta nem máquina do tempo seria capaz de revelar.

[xrr rating=4/5]

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