“Os Agentes do Destino” transforma Philip K. Dick em Nicholas Sparks

Se parar para pensar, tudo o que emergiu da trilogia Bourne (tendo passado ou surgido) é sempre sinônimo de bom cinema. Doug Liman, diretor do primeiro filme, se redescobriu após a experiência, culminando em filmes extraordinários como Fair Game. O roteirista Tony Gilroy, que revelou-se muito preciso na construção narrativa da trilogia, tornou-se um diretor respeitado, tendo seu filme de estréia na função, Conduta de Risco, indicado ao Oscar. Isso sem falar de Matt Damon que viu seu prestígio aumentar no misto de condensação política e preocupação espetacularizada que a trilogia trazia.
Agora com Os Agentes do Destino fica clara pelo menos esteticamente a herança de Bourne, já que marca a estreia do diretor George Nolfi na direção, sendo ele um dos roteiristas do ótimo Ultimato Bourne. Baseado na complexa obra de Philip K. Dick (mais precisamente no conto The Adjustment Team, de 1954) vemos Damon na pele do congressista David Norris, um promissor candidato ao Senado em Nova York, que se apaixona perdidamente por uma bailarina (a cada vez mais apaixonante Emily Blunt). Só que ao mesmo tempo, passa a ser perseguido por uma espécie de organização que, posteriormente, revelam-se como “agentes do destino” que guiavam a humanidade desde a antiguidade.

A premissa parece absurda, mas pelas obras anteriores de Dick fica claro que como roteiro o argumento ficou muito mal desenvolvido e cheio de falhas em sua lógica. Talvez se enxergarmos o filme apenas como uma engenhosa história de amor, desça mais “redondo”, mas é na falta de foco narrativo que a produção mais irrita e se complica. Tanto que o seu final foi refeito duas vezes e ainda assim fica nítido que houve uma imperdoável banalização do contexto discursivo do conto e o filme fica a serviço de uma solução imediata para dar algum sentido a trama. Ou seja, vira tudo uma historinha de amor impossível, tendo o destino como maior impedimento. Pois é.
Comecei falando sobre o legado de Bourne pois um dos poucos pontos altos do filme é a direção segura de Nolfi, que faz um retrato de Nova York com requintes Hitchcokianos, auxiliado por uma fotografia, no mínimo, interessante. Quem sabe num próximo projeto encontre um roteiro a altura de sua pretensão estética…
[xrr rating=2,5/5]

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