Há mais de 25 anos, Riverdance foi apresentado pela primeira vez: um espetáculo teatral de dança irlandesa que cativou o mundo com sua maravilhosa coreografia (curiosos, podem ver vários vídeos no YouTube). Dada a popularidade deste espetáculo, Dave Rosenbaum, produtor e diretor de criação de “Meu Malvado Favorito”, “Minions”, “Sing”, etc e Eamonn Buttler, diretor de animação/efeitos visuais de A Roda do Tempo, The Witcher,etc desenvolveram uma animação inspirada nesse espetáculo. Riverdance: Uma Aventura Dançante (Riverdance: The Animated Adventure, 2021), disponível na Netflix, que nos mostra que dançar por si só não é suficiente para salvar uma história sem sentido.
O problema é que o espetáculo original não possui um enredo, é uma série de números de dança sem narrativa. Portanto, a dupla tenta preencher as lacunas com personagens, eventos e conflitos. Vamos analisar como foi desenvolvido:
Análise
Como vemos no trailer, há uma lenda que, se o farol de uma pequena cidade irlandesa se apagar, um caçador sombrio (voz de Brendan Gleeson) irá chegar em terra para pegar os chifres dos alces irlandeses, que mantêm vivos os rios e a natureza da Irlanda. Um menino chamado Kegan (Sam Hardy) é o encarregado de manter o farol aceso, mas após uma tragédia, irá com sua amiga espanhola Moya (Hannah Herman Cortes) em uma aventura onde descobrirá a verdade por trás desse mito.
Não há nada de errado em fazer um filme de material sem uma história: Piratas do Caribe é baseado em um jogo de parque de diversões, “Across The Universe” reúne músicas dos Beatles e apresenta uma história; entre outros são exemplos. Nem todos são bons, mas já foi feito antes.
A falha em Riverdance: Uma Aventura Dançante está em confundir o termo “filme infantil” com “filme tolo”. Depois de uma bela introdução com uma animação que emula recortes de papel, somos levados a uma história repleta de piadas sobre flatulência e fluidos corporais; subtramas desnecessárias, como sapos em busca de um dos seus girinos, sem qualquer impacto na trama; personagens como um alce cujo excesso de peso é uma piada recorrente que beira o ofensivo, que o roteiro tenta justificar com uma reviravolta tirada do nada.
Apesar dos 90 minutos, parece que a direção luta para esticar o tempo o máximo possível, mas com as ideias mais ridículas; por exemplo: em uma das sequências mais surreais, Kegan vai comprar doces e logo em seguida vemos o dono da confeitaria dançando e fazendo os doces voarem, até os bombons e chocolates fazem uma coreografia! Não há nenhuma explicação para isso.
O motivo da existência do filme são os números de dança, mas aqui não conseguem surpreender. Parte do show real é ver as pessoas executarem coreografias elaboradas, não é a mesma coisa vê-las executadas por personagens animados e renas. A magia da dança se perde por trás dos personagens, que não são chamativos o suficiente.
Bonito, mas sem sentido
Riverdance: Uma Aventura Dançante é, portanto, uma mistura, onde tudo foi jogado junto, animais, música e magia, pra contar uma narrativa. A animação deixa a melhor impressão em termos visuais. Há algumas fotos bonitas aqui, às vezes pela natureza, às vezes pela cidade. Os desenhos das figuras humanas e animais também estão bem. Mas isso não muda o fato de que o conteúdo aqui é bastante sem sentido, apesar de uma declaração ecológica sutil.
Há animações com muito mais história na própria Netflix, mas nesse caso, assista para nos contar o que achou. E para quem gosta de apresentações de dança melhor ir ao original. A combinação de dança e animação vale uma olhada como curiosidade.
Eu sou formada em dança, dou aula de dança, produzo dança e consumo dança. Não concordo com as críticas descritas aqui.
Ao contrário. Vejo uma narrativa bacana e a magia e a sensibilidade que a dança nos traz, em cada pedacinho do filme.
Sem contar a abordagem intrísica a respeito da natureza.
Adorei. E minhas filhas também.
Entendo, Tatiana. Como assistir o original, não conseguir sentir o mesmo com a animação. As minhas filhas tb gostaram, por sinal.