David Cronenberg é um diretor de vísceras. No sentido denotativo e conotativo de uma noção estética de trabalho cinematográfico. Por isso, quando anunciou que faria um filme sobre a relação passional entre o psiquiatra Carl Jung (Michael Fassbender), sua paciente Sabina Spielrein (Keira Knightley) e o pai da psicanálise, Sigmund Freud (Viggo Mortensen), logo provocou um misto de estranhamento e curiosidade, uma vez que o “tema” fugia um pouco da cinefilia de extremos da qual está acostumado.
A trama é inspirada no livro A Most Dangerous Method, de John Kerr, e adaptada para o cinema pelo premiado escritor Christopher Hampton, vencedor do Oscar de Melhor Roteiro por Ligações Perigosas. Antes, Hampton já havia levado a história para os palcos na peça The Talking Cure. O nome do filme refere-se a um artigo de Freud intitulado Observações Sobre o Amor Transferencial, escrito em 1914 e publicado em 1915.
De modo geral, Cronenberg não foge muito a suas fixações, uma vez que, se não utiliza de seus maneirismos para contar essa intricada relação, o discurso do filme é todo pautado nos limites do indivíduo e na sua relação psíquica e carnal. Isso é muito Cronenberg. Entretanto a sisudez do tema comprometeu a vivacidade do diretor, resultando num filme pragmático e frio demais. Ainda que humanize figuras tão icônicas como Freud e Jung, o filme é muito mais expositivo (principalmente nos embates intelectuais entre ambos) do que representativo, numa realidade dramatúrgica, o que o torna quase didático, mesmo retratando uma singular relação amorosa.
O elenco é bom, com Keira numa atuação bem corajosa, e Fassbender brilhando como sempre. Mas nesse filme, Cronenberg parece ficar comedido diante de tamanha responsabilidade histórica (!), num resulto bem aquém de suas desbravadas investigações humanas, que tanto deram personalidade a sua obra. O mundo da psicanálise é bem menos careta do que a representação feita de seus principais atores.
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