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"Venom" não faz uma boa simbiose entre quadrinhos e cinema

Não é de hoje que a Sony/Columbia Pictures tem planos de criar uma franquia protagonizada por, veja só, um dos vilões da vasta galeria dos inimigos do Homem-Aranha que, originalmente, surgiu na saga “Guerras Secretas” como uma nova versão do uniforme do teioso e, com o passar do tempo, passou ao panteão de um dos mais populares nêmesis do herói graças ao trabalho feito por David Michelinie e Todd McFarlane. Primeiro, o estúdio praticamente obrigou o diretor Sam Raimi a colocar o personagem no já inflado roteiro de “Homem-Aranha 3”, o que se revelou um dos maiores erros desta sequência graças ao tratamento corriqueiro dado ao vilão e também a fraca performance de Topher Grace, que não encontrou o tom certo para torná-lo realmente interessante.
Mesmo assim, o estúdio insistiu na ideia de ter uma produção estrelada pelo personagem, que ganhou força após o acordo que a Sony fez com a Marvel Studios para usar o Cabeça de Teia em seus filmes, o que resultou numa bem sucedida participação do em “Capitão América: Guerra Civil” e num sucesso de público e crítica com “Homem-Aranha: De Volta ao Lar” (que já tem uma sequência em andamento, “Longe de Casa”), além do épico “Vingadores: Guerra Infinita”. Logo, não demorou muito para que o projeto, até então em estágio embrionário, ganhasse força para chegar as telas e iniciar um novo conceito para gerar franquias não de heróis, mas de anti-heróis. É uma pena, no entanto, que “Venom” (Idem, EUA/2018) acabou se tornando um filme confuso em seu tom, com uma história muito mal contada e cheia de falhas e, para piorar, uma direção fraca que prejudica o seu elenco e deixa uma sensação incômoda de que poderia resultar em algo bem melhor do que acaba sendo, no fim das contas.

Ambientada em San Francisco, a trama acompanha a vida de Eddie Brock (Tom Hardy), um repórter investigativo que, ansioso em revelar ao público que o milionário Carlton Drake (Riz Ahmed) está longe de ser o benfeitor que diz ser, acaba metendo os pés pelas mãos e perde, numa só tacada, seu emprego, sua casa e seu noivado com Annie Weying (Michelle Williams). Tempos depois, ainda amargurado pelo seu revés, Eddie recebe uma pista de que Drake está realizando experimentos dentro de sua empresa, a Fundação Vida, em que pretende fundir humanos com uma raça alienígena que ele chama de simbiontes, por acreditar que isso traria a evolução para a humanidade.
Durante a investigação, Eddie acaba sendo infectado por um dos simbiontes e passa por estranhas transformações geradas por essa fusão, culminando na inusitada parceria entre ele e o alienígena Venom, gerando um ser extremamente forte e feroz que passa a ser perseguido pelos capangas de Drake.

Entre as muitas falhas de “Venom”, uma das mais decepcionantes é a direção muito abaixo do esperado de Ruben Fleischer, que parecia ser o cineasta ideal para esse projeto depois que realizou uma boa mistura de comédia e terror com “Zumbilândia” e fez o correto “Caça aos Gângsters”. Tanto que as sequências iniciais mostraram potencial com um bom clima de terror e suspense, que instigam o espectador. Só que, passado algum tempo, Fleischer muda o tom e abraça a galhofa de vez, principalmente depois que o protagonista passa a ser dominado pelo ser alienígena, resultando em momentos que podem até ser constrangedores e que o humor não funciona tanto quanto poderia. Além disso, o diretor não sai do trivial nas cenas de ação e, provavelmente por imposição do estúdio, pisa no freio e faz com que boa parte das sequências seja insípida, com nenhuma gota de sangue, por mais violenta ou asquerosa que seja.

O pior problema do filme, no entanto, está em seu roteiro assinado por Jeff Pinkner, Scott Rosenberg e Kelly Marcel, que criou uma história que não consegue sair do lugar comum e não resolve de forma satisfatória as diversas situações que cria, ainda mais que fica muito estranho não ter a participação do Homem-Aranha na trama, já que o Amigão da Vizinhança é peça essencial para a origem de Venom e suas motivações.
Os roteiristas fizeram diálogos tão constrangedores e sem sentido que fica difícil de achar que foram feitos por profissionais tarimbados de Hollywood. Para piorar, os autores tratam a relação entre o protagonista e seu “hóspede” como se um estivesse se envolvendo romanticamente (!!!) com o outro. Fica realmente difícil de engolir.

O mais curioso, no entanto, é que “Venom” não é tão desagradável, mesmo com tantos erros. Há algumas (embora não muitas) boas sequências que até compensam a ida ao cinema. Duas delas, inclusive, acontecem durante os créditos do filme, que ajudam a torná-lo não tão odioso quanto “Esquadrão Suicida” ou “Mulher Gato”, por exemplo. Já na parte técnica, os efeitos especiais estão corretos, mas não são bem empregados no terço final, que parecem ter sido executados pela mesma equipe dos filmes dos “Transformers”, tamanha a confusão visual que não permite que o público entenda o que está acontecendo na tela.
Depois de se consagrar com suas atuações em filmes como “Mad Max: Estrada da Fúria”, “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge” e “O Regresso” (pelo qual foi indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante), Tom Hardy tem aqui, infelizmente, a sua primeira grande derrapada como ator. Ele exagera demais na sua atuação tanto como Eddie Brock quanto como o seu alter-ego, tornando difícil criar uma empatia do público com os dois personagens que o astro faz. Nos momentos em que tem que fazer graça, a coisa complica mais ainda, apesar de ser nítido o esforço do astro em deixar o anti-herói mais simpático. Mesmo assim, ele está bem melhor do que Topher Grace em “Homem-Aranha 3”.

Michelle Williams, que parece ter dado um tempo em filmes mais densos e tem participado de produções mais leves como “O Rei do Show” e “Sexy Por Acidente”, aqui é totalmente desperdiçada e tem uma atuação muito fraca como a “mocinha” que acaba disputada pelo ex-namorado e o “novo” amigo dele e, ainda por cima, não possui muita química com Hardy. Riz Ahmed também parece pouco à vontade com seu Carlton Drake e acaba tornando o vilão uma espécie de Lex Luthor dos novos filmes da Warner/DC sem o histrionismo de Jesse Eisenberg, mas também sem nenhum carisma. O resto do elenco também não tem nada de relevante para se destacar.

“Venom” certamente entra para o grupo de piores adaptações de quadrinhos para o cinema, mas ainda assim pode render uma nova franquia se o público abraçar a ideia. Mas é bom que, se houver continuações, é bom que seus realizadores caprichem mais para fazer filmes melhores. Do jeito que ficou, só comprovou que a Marvel Studios ainda é, no momento, a melhor em adaptar quadrinhos para a telona. Ou seja, a concorrência ainda vai ter que comer muito feijão com arroz para fazer uma simbiose tão boa quanto Kevin Feige fez com os personagens da Casa da Ideias.
Nota: 2/5
Filme: Venom (Venom)
Direção: Ruben Fleischer
Elenco: Tom Hardy, Michelle Williams, Riz Ahmed
Gênero: Ação/Ficção Científica/Comédia
País: EUA
Ano de produção: 2018
Distribuidora: Sony/Columbia Pictures.
Duração: 1h52min
Classificação: 14 anos

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