Após Busca Implacável, Liam Neeson criou uma espécie de franquia cinematográfica para si, que pode ser chamada simplesmente de “filme de Liam Neeson”. Esses longas invariavelmente giram em torno de um homem em busca de vingança ou que vai a uma situação limite para salvar algum ente querido. E assim, o ator que chegou a concorrer ao Oscar por “A Lista de Schindler” vai assumindo o papel que era de Charles Bronson nos anos 80. Em “Vingança a Sangue Frio” essa temática do vigilante obstinado ganha tintas de sarcasmo e humor negro.
O mote segue fielmente seus similares. Homem de família tranquilo que ganha a vida como motorista de snowplow, Nels (Neeson) é a alma de uma cidade resort brilhante nas Montanhas Rochosas, por ser único responsável pela manutenção das estradas de inverno. Ele e sua esposa vivem em uma cabana confortável longe dos turistas. A cidade acaba de conceder a ele “Cidadão do Ano”.
Mas a paz de Nels acaba quando seu filho é assassinado por um poderoso traficante de drogas. Sua única motivação passa a ser uma tentativa de vingança, que acaba por transformá-lo em um herói improvável usando suas habilidades de caça para se transformar em um assassino habilidoso, obstinado em desmantelar o cartel. As ações de Nels deflagram uma guerra entre um gangster maníaco e imprevisível conhecido como Viking (Tom Bateman) e um chefe de gangue rival.
O interessante é que apesar de toda a carga dramática, o filme procura lidar com as mortes de forma jocosa. À medida que a trama avança vão ficando mais absurdas. Algumas parecem até desenho animado, outras franquias de terror ali por volta do sexto ou sétimo filme, quando o que vale é a criatividade das execuções para prender o público cativo. O obituário que se segue às execuções (contendo nome e símbolo religioso conforme a crença do morto!) deixa claro o tom do filme. A sequência final então é digna de Quentin Tarantino.
No fundo, Liam Neeson dá a sensação de que está se divertindo muito, assim como o diretor norueguês Hans Petter Molland. O longa é um remake de “O Cidadão do Ano”, que Molland dirigiu em seu país natal. Neeson garantiu que esse é o último filme de sua “franquia”, e que vai deixar o posto de herói de ação. Mas assistindo a “Vingança a Sangue Frio” fica tão nítido seu conforto no papel que é até difícil acreditar nessa aposentadoria. Quanto aos adoradores dos “filmes-de-Liam-Neeson”, podem ficar tranquilos, pois, como se pode depreender da leitura, esse aqui foi feito para vocês.
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