O italiano Giulio Leoni trouxe numa série de livros o famoso poeta Dante Alighieri como protagonista em histórias sinistras e de mistério na Itália do século XIV. Professor de Literatura e um entusiasta por História, Magia e Ilusionismo, Leoni constrói enredos que transforma o célebre nome do Renascimento italiano em um distinto investigador de crimes. Foi assim em “Os Crimes da Medusa” (I delitti della Medusa), “Os Crimes do Mosaico” (I delitti del Mosaico) e “Os Crimes da Luz” (I delitti della Luce), como também no último (La crociata delle tenebre, tradução de Gian Bruno Grosso), que encerra as aventuras de Dante. Publicada pela Editora Planeta, a série aborda uma das mais renomadas figuras do Renascimento como um investigador de crimes pela Itália da Idade Média e o melhor está no embasamento histórico primoroso.
Nos três livros anteriores, Dante era priore de Florença, cargo mais alto da cidade, que inclui a gestão da política e dos assuntos públicos da cidade, além do comando da milícia. Nomeado representante florentino junto aos Estados da Santa Sé, Dante chega a Roma, sozinho, esquivo e acompanhado apenas de suas angustias e das páginas de seu amado Virgílio. Ali, na Cidade Eterna, é acolhido pelos monumentos do passado, pelas ruas fervilhantes, por fortalezas onde, de suas torres erguidas sobre as ruínas de palácios imperiais, dominam as famílias patronais. Contudo, uma sinistra série de cadáveres são resgatados, todos de jovens, com seus corpos transfigurados e com sinais inconfundíveis de mutilações por rituais. Logo, Dante se ver imerso aos crimes, principalmente pelo relacionamento dos assassinatos com sua obra máxima, a Divina Comédia.
Perante aquele provável serial killer, o poeta se torna testemunha direta da descoberta de um cadáver num antigo mausoléu, um corpo de mulher perfeitamente conservado. Poderia ser a lendária papisa Joana? Para Dante há relação entre os dois casos, algo que a Inquisição não deseja ser revelada, mas descobriremos lendo “A cruzada das Trevas”. Numa Roma desfigurada, feroz e miserável, constrói um enredo elaborado, um retrato sutilmente descritivo de uma época, onde encontraremos nomes conhecidos como o pintor Giotto ou Bonifácio VII, ou não tão conhecidos como o cabalista Manoello Giudeo, além de personagens como a belíssima poetisa, filha do senador Saturniano Spada ou um misterioso emissário do Khan da Pérsia.
Dentre os quatro livros, esse é o melhor, por isso estou indicando aqui no Ambrosia. Pela beleza, engenhosidade, pelo uso fictício de uma realidade histórica, pela abordagem psicológica com grande profundidade, especialmente o protagonista. Assim, Leoni faz um remake do poeta, um florentino absolutamente orgulhoso de sua cidade, uma figura conhecida pelo povo de seu tempo, não só como poeta, mas também como um político comprometido. Sua cidade foi, no auge de sua maturidade, um prodígio, uma mistura extraordinária de culturas que é difícil de acreditar que existia em um período histórico onde a comunicação e a circulação de idéias não deviam ser fáceis. E Dante fez parte desta cidade de mercadores que se tornou um centro de pensamento e de artistas que influenciaram o mundo daquele período histórico, que ficaria conhecido como a época renascentista.
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