Não me lembro de ter lido algum livro sobre o Velho Oeste antes. Sobre zumbis já li. Mas zumbis no faroeste é inédito. Para quem ficou intrigado com a mistura, pode conferir ela em Areia nos Dentes, do gaúcho Antônio Xerxenesky. Publicado pela Não Editora, o livro narra a história de Juan Ramírez, filho de Miguel, que tem uma rixa com a família Marlowe. Os Ramírez desconfiam que os Marlowes escondem alguma coisa no seu porão. Porém, há mais do que isso. É uma narração dentro de uma narração. A história é contada por outro Juan, descendente do primeiro, um velho morador da Cidade do México que vê no livro uma forma de dar mais ação a história de sua família.
A construção da narrativa de Xerxenesky foi feita de um modo bem diferente, assim como seu enredo. São diversos estilos de escrita que se juntam no livro. Há desde a clássica narração onipresente até um modelo de roteiro, onde apenas as falas das personagens estão presentes. Essa abordagem da ritmo a obra, com as mudanças de escrita indicando a intensidade de cada cena.
Outro ponto interessante em Areia nos Dentes é a forma como Juan (o velho) é retratado, e como ele faz a história. A narração dos tempos do Velho Oeste é interrompida pelo narrador/personagem por todo o livro, dando à obra o mistério que ela precisa, mostrando como a vida dele molda sua ficção. Sem falar que essas interrupções são cômicas e fazem parte também da estética do livro.
Sobre o enredo, ele realmente prende, mas não pela junção de enredos clássicos: faroeste e zumbis. Isso porque os zumbis demoram a aparecer. Xerxenesky fez com que suas personagens cativassem o leitor, e depois de um tempo de leitura a preocupação sobre a ausência dos zumbis desaparece. Porém, quando acontece, fazem jus às histórias de mortos-vivos. Muito sangue, hematomas, mortos em todos os cantos e corpos revivendo como uma verdadeira infestação. A história nesse ponto pode ser um pouco melodramática, mas não há como ser de outra forma.
Mesmo sendo uma mistura estranha, é fácil converter em imagens as palavras de Xerxenesky. Areia nos Dentes retrata bem o desconforto do calor do deserto. Cenas clássicas de faroeste invadidas pelos zumbis cambaleantes de olhar perdido se formam claramente na mente do leitor. Um ótimo livro, rápido de ler e nem um pouco maçante. Algo diferente do que encontramos nas livrarias e que deve ser lido sem preconceitos.
“Os zumbis de um lado, a guarda de fronteira do outro lado, e eu bem no meio? Nã-Nã, perigoso demais. Adiós.” O Homem sem Nome.