Andressa Monteiro escreve desde os 15 anos, quando descobriu o amor pela poesia ao ler Manoel de Barros. Durante a pandemia, a autora selecionou poemas escritos em diferentes momentos de sua vida para construir uma coletânea de mais de 80 textos, que estão reunidos em “Velho mundo e outros poemas”, lançado pela Editora Patuá.
O livro aborda temas, como natureza, desejos, afetos, perdas, tempo e espaço. A autora, formada em Jornalismo, trabalhou essas temáticas de uma perspectiva acadêmica durante o mestrado em Comunicação Social, e agora os aborda da perspectiva literária, em uma poesia descritiva e imagética que, de dentro do gênero da poesia, dialoga com a prosa poética.
“São temas que andam comigo desde que me entendo como poeta. Por serem temas abrangentes, consigo um leque maior de possibilidades de criação. Para mim, espaço e tempo estão interligados e, a partir deles, consigo pensar em minhas formas de ser e de sentir no mundo, principalmente dentro da natureza”, diz.
Nos poemas de Andressa mergulhamos em um mundo poético no qual autoras clássicas da literatura brasileira, como Clarice Lispector, e autoras contemporâneas que têm conquistado importante espaço na literatura nacional, como Mar Becker, aparecem como inspirações interlocutoras.
Conforme conta a autora na sinopse do livro, a escolha pelo título da obra, que faz menção ao poema “Velho mundo”, busca demarcar não só mundos que foram deixados para trás a partir da elaboração, através da escrita, da necessidade de se desvincular de certos espaços e pessoas, mas também mundo novos que se abrem a partir desse ponto de virada no qual Andressa, por meio de seus poemas, constrói para si.
Sobre seu processo criativo, Andressa acredita que a escrita é um hábito, portanto escreve todos os dias – mesmo que aquilo que escreva venha a ser descartado. Ela pensa que esta é uma prática que permite criar um corpo de trabalho constante e consistente. A autora, que tem o hábito de escrever no bloco de notas do celular observando o mundo pela janela ou no escuro silencioso do quarto antes de dormir, pontua que não necessariamente é preciso ter uma meta, mas sim dar liberdade ao processo: “Em um mesmo dia, posso escrever três poemas inteiros, um verso, duas palavras ou revisar um poema e que estava ‘descansando’ há meses no dia.”
Ela também ressalta a importância do diálogo entre linguagens artísticas distintas para o processo criativo ao relatar que filmes e músicas, além de livros, são importantes fontes de inspiração para seu trabalho de escrita. Não à toa, além de escritora é também pintora e fotógrafa. Em sua obra, essa mescla de gêneros artísticos comparece na composição de múltiplos sentidos: ver, ouvir, sentir, tudo se atravessa para a compor cenas nas quais leitoras e leitores são convidados(as) a imaginar novos usos para seus sentidos, como no poema “I.”:
som das marés
o poema mais longo que já percebi
Sobre as perspectivas futuras de novas publicações, Andressa conta que já está preparando um novo livro, reunindo outros poemas que criou durante a vida e escrevendo novos: “Quero que esta nova obra seja mais robusta e que fale com outros temas sobre os quais ando interessada ultimamente. Mas as temáticas que me acompanham permanecem: natureza, desejos, afetos, tempo e espaço”, relata.
Confira o poema “lascívia”, do livro “Velho mundo e outros poemas” de Andressa Monteiro:
lascívia
danço molhada
na floresta úmida e tropical
antes da tarde anoitecer
sou pantera
sou boto
e sou formiga
sou mais um dia
a sua boca é macia como seda e cetim
sou gazela-gazar
e não é preciso ter medo de mim
deite na rede e renda-se
te cavalgo na brisa quente
no suspiro de uma hipnose
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