Um mosaico não seria laico se fechasse o plural do seus encaixes. Assim como o arcaico pode coexistir com o dito “civilizado” sem um descriminar o outro. As coisas simples como uma casa caiada podem servir de contraluz ao edifício mais alto. Esta dicotomia entre o interior e a cidade; entre sertão/mar, quando o poeta faz poesia, ele não está interessado no mais valia das coisas, mas sim na estética e nos sons das palavras, na maneira de se juntar áudio e grafia, o poeta é um bom caminhador das palavras.
O músico e poeta Paulo Netto em seu primeiro álbum, chamado “Rosário de balas” pelo selo Circus, cria em gêneros, números e graus, num circuladô caleidoscópio de tons e matizes sobre o pensar ou pesar do homem contemporâneo em meio a discursos de balas ; falas-metralhas que giram e giram pela vergonhosa munição argumentária. Com produção musical de Rodrigo Campos, direção artística do Celso Sim e amparado por um grupo de músicos com diversos registros da inventiva música popular brasileira, um mosaico-aglutinador de todas as árvores plurais que tem por este Brasil afora. O rock se embebeda da MPB, aglutina com o folk e procria numa universalidade de gêneros e matizes, com cirandas e cantigas de toda espécie.
Se queres ser universal, fale da sua aldeia. O olhar do poeta não é acadêmico pois não estuda uma bela cena de uma casa rústica, com olhar crítico/estrangeiro. Paulo traz em si, um repertório afetivo de lembranças quando viveu em Pernambuco, e mesmo em São Paulo, sua fala-tapeçaria é prosada em afeto pelo lume-poética da memória.
Duas letras chamam bastante atenção: a quinta faixa ‘Temos todos o mesmo a perder’, composta por Paulo quando leu um texto da compositora Zélia Duncan na imprensa; e faixa que dá nome ao álbum, ‘Rosário de balas’. Por sinal, um título lapidar, entre o novo mundo novo da guerra da linguagem que assola as redes sociais com um tipo de instrumentalização cirúrgica de matar alteridades no discurso do outro.
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