Dando prosseguimento a uma sequência de singles versáteis, o cantor, compositor e instrumentista andre L. R. mendes mostra mais um gostinho de seu próximo disco, “Rimado”. Depois de projetar a jornada do herói em sua última canção, agora o músico baiano fala de outro tipo de narrativa quixotesca: a realidade do artista brasileiro em busca de reconhecimento em “De Segunda Mão”.
Nessa jornada, andre segue construindo uma carreira solo prolífica e atuante. Ao longo de seus últimos oito álbuns, ele vem desenvolvendo uma sonoridade calcada na contação de histórias e nas tradições poéticas e urbanas, onde ritmo e verso ditam a toada de causos e rimas, composições inspiradas desde clássicos literários ao homem comum, sempre unindo a MPB ao folk. Mas “De segunda mão” acaba seguindo o caminho da valsa, em uma entrega melancólica que reflete a realidade de muitos artistas.
“Essa música é a minha favorita do vindouro disco ‘Rimado’. Um tipo de valsa tensa que fala de falta de reciprocidade. Parece ser no amor, mas fala exatamente da falta de reconhecimento que a enorme maioria dos artistas sofre. E num momento em que a música é uma das coisas que menos importa no music business e na volátil velocidade dos likes das redes, essa triste verdade é ainda mais gritante. Um país é criado, recriado e registrado por suas obras artísticas. Um viva aos artistas tantas vezes quixotescos e aos que tem atenção e paladar pra arte que corre à margem do mercado”, saúda.
O single se une aos demais já revelados do álbum “Rimado”. Este será o nono trabalho de estúdio de andre em sua carreira solo. O músico de Salvador tem uma longa trajetória desde os anos 90 que conta ainda com um EP, uma coletânea e uma série de singles. Foi integrante da banda Maria Bacana, revelação nos anos 90 e que fazia parte do casting do selo Rock It! de Dado Villa-Lobos. Com o fim do grupo, se voltou para se reinventar artisticamente, deixar o rock de lado e abraçar uma musicalidade mais leve e depurada, próxima da MPB com cuidado ao formato canção. Seu último álbum é “O Rei dos Animais”, de 2021.
Assim como em boa parte de sua carreira solo, andre cuida de todo o processo criativo, da composição à capa do álbum, cantando, tocando, produzindo e fazendo videoclipes enquanto planeja os próximos projetos. Assim como as canções do novo disco já lançadas “Beatriz”, “O Samba do Homem Comum”, “Beleza Baiana”, “Peixe Pequeno” e “A Vida do Herói”, “De segunda mão” está disponível nas plataformas de música.
Crédito da foto: Cintia M.
Ficha técnica
Tudo criado e produzido por andre
Foto da capa: Cintia M.
Arte da capa: andre
Letra
De segunda mão
Era só canção
Mas a usei pra lhe entregar amor
Em cada nota pintei uma cor
Formei acordes usando pincéis
O meu coração
Lhe entreguei na palma da sua mão
Mas por desacato
Por desatenção
Fora parar debaixo dos teus pés
Ah, Amor!
Não vê que sofre esse compositor
Ao perceber que sincero clamor
É só um barco à milhas das marés?
Procurei florear
Escolhi palavras para enfeitar
Acordes tortos para entortar
Mas tu achou tudo triste revés
Fui te explicar
Assim sincero
Nem ousei blefar
Isso era tudo que eu podia dar
E o que recebo são seus pontapés
Ah, Amor!
Como me amarga o que fiz doce então
Que empenhei tanta dedicação
Mas pra você é o canto das ralés
Já que não lhe serve
Não é seu tipo
Nem lhe agrada o tom
Não tem sorriso embaixo do batom
A homenagem não ficará ao léu
Foi desilusão
Mas meu esforço achará enfim
Em outro bairro
Em outro jardim
Alguém pra ouvir essa canção infiel
Ah,Amor!
E como roupa de segunda mão
Uma camisa que falta um botão
Outra se aquece com sua canção
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