“Nosso amor era meu útero, mas nosso laço se rompeu”
Com essa rascante frase que a cantora Björk inicia a sôfrega Black Lake, música de mais de 10 minutos que exprime tudo o que esse seu belíssimo nono álbum, Vulnicura, tem a dizer. Ou apenas representa. Björk voltou. E voltou desabafando a dor de sua vida particular. Cada uma das nove canções do álbum revisita o fim de seu longo casamento com o artista plástico Matthew Barney e deixa uma sensação dolorosa às melodias tão características da cantora.
A música que abre o disco, Stonemilker, já dá esse tom num misto de beleza (é, possivelmente, uma das mais lindas de sua discografia!) e resignação, onde frases como “momentos de clareza são tão raros, é melhor eu documentar isso“, sob melodias orquestrais escandinavas, precisam de muito pouco para serem assimiladas. Em Family ela (literalmente) grita: “existe um lugar onde eu possa prestar condolências pela morte da minha família?“.
O disco é dividido em três partes desse luto pessoal: antes, durante e, finalizando, a cura. Percebe-se sensivelmente a sensorialidade buscada num início, com canções mais pungentes na melancolia das letras em seus arranjos. As últimas músicas trazem a Björk mais marcadamente eletrônica, numa sonoridade na (medida da) possibilidade islandesa, do que entendemos como solar.
Com produção do ascendente artista venezuelano Arca (que muito agregou ao ótimo disco Yeezus, de Kanye West), Björk faz um disco passional, mas inteiro, com alma e consistência dramática. Suas últimas experimentações sonoras, geralmente, se traduziram em discos interessantes, porém frios num todo. Vulnicura traz um azeitamento entre o sonoro e o seu sentido, que não vemos desde o intenso álbum Vespertine. Por isso que ela finaliza sua espécie de terapia musical, cantando que “quando ela está destruída, ela está completa. Quando ela está completa, ela está destruída“.
Querida Björk, volte sempre ao mundo real, pois até ele se transforma quando você está nele.
Comente!