Ficção inspirada em história real, com alguns personagens retirados da vida como ela é e, outros, adaptados às lembranças. As Cinzas de Maria, publicada pela Autografia – da jornalista e crítica de cinema Myrna Silveira Brandão – é também uma tentativa e um desejo de acertar as contas com um passado que continua presente em vários momentos, aqui e ali, numa palavra, num gesto, numa imagem, num cheiro.
A autora confessa que preferia que o livro tivesse sido escrito em forma de poesia, mas, sem este dom, apoiou-se na frase de David Carradine: “se você não pode ser o poeta, seja o poema”, dita no filme “Esta Terra é minha Terra”, de Hal Ashby.
Em As Cinzas de Maria, a autora lança mão de fatos históricos, sociais e culturais, com datas fictícias, imprecisas e nem sempre lineares para construir sua narrativa e recriar episódios, que, diz, pareciam estar perdidos para sempre. Essa opção é uma forma de retomar a memória, às vezes com límpida nitidez, em outras com tons nebulosos, afinal “é quase impossível revisitar o passado sem, por extensão, ir aos acontecimentos e transformações na sociedade, as influências sociológicas, literárias, culturais, políticas e familiares”.
Em mais de 50 capítulos, a narradora vai de onde começam a existir as próprias lembranças até a ida dela de Salvador para o Rio de Janeiro após a morte do pai. É um livro para todos aqueles que gostam de boas histórias e que têm vontade de incorporar na leitura sua história de vida.
Myrna é autora de outros quatro livros, sobre cinema (não à toa, portanto, a sétima arte está aqui e ali nesta ficção) e costuma dizer que “cada espectador(a) vê um filme, de acordo com sua história de vida, padrões, condicionamentos, conceitos… Isto também se aplica aos livros e “cada leitor(a) lê um livro”.
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