Poeta e ensaísta, Lewis Hyde evoca em “A astúcia cria o mundo” exemplos mitológicos da figura do trickster e suas influências nos tempos modernos, especialmente nas expressões artísticas. Hyde discute o paradoxo do fato de a origem, vitalidade e durabilidade das culturas requererem que haja espaços para figuras cuja função é expor e desorganizar as coisas nas quais as culturas se baseiam.
O autor argumenta que há momentos em que o exercício da arte e do mito coincidem. Ele cita como exemplo a figura do vigarista nos Estados Unidos, especificamente como aparece na literatura e nos filmes. “Nós nos divertimos quando ele chega à cidade, ainda que algumas pessoas tenham as contas bancárias esvaziadas, porque ele personifica coisas a respeito dos Estados Unidos que de fato são verdadeiras, mas que não podem ser declaradas abertamente, como até que ponto o capitalismo permite que roubemos de nossos vizinhos”, explica.
Hyde explora os velhos mitos que afirmam ter sido o trickster que fez o mundo como ele de fato é hoje. Ele revisita histórias antigas como a de Hermes na Grécia, Exu na África Ocidental, Krishna na Índia e o coiote na América do Norte e as compara às criações de artistas como o pintor e escultor francês Marcel Duchamp, o escritor americano Johan Cage e o artista espanhol Pablo Picasso. “Quando Picasso diz que a arte é uma mentira que conta a verdade, estamos mais próximos do espírito do trickster. Ele levou esse mundo a sério, depois o desfez, depois deu-lhe nova forma”, completa.
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