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Autora sueca traça história da intimidade feminina em "A Origem do Mundo"

Se alguém tem dúvidas de que a sociedade que conhecemos foi construída a partir de um conceito patriarcal, tem que ler A origem do Mundo, da sueca Liv Strömquist, autora de quadrinhos,  como também apresentadora de rádio e televisão – obra que apresento neste artigo de opinião.
Publicado pelo selo Quadrinhos na Cia, da Companhia das Letras, temos em mãos um livro radical para os padrões convencionais, como a mensagem da capa apresenta.

Na introdução do livro temos exposto as mais diversas tentativas de domar, castrar e padronizar o sexo feminino ao longo da história. A autora é ativista no campo do feminismo, o ensaio cômico revisa vários aspectos do construto patriarcal em que estamos imersos a partir de um fator comum: a história cultural da vulva. Sim, do aparato genital externo feminino.
Usando algo tão particular das mulheres, Strömquist analisa como os homens tentaram silenciar, interpretar, modificar ou censurar o corpo das mulheres, e isso pode ser provado em vários termos. Entre eles: a representação pública da vulva das mulheres, a relação que supostamente deveria ter a mulher com o sexo ou o tabu que existe atualmente, mesmo na menstruação e suas implicações.
Dos gregos antigos a Stieg Larsson, das mulheres da Idade da Pedra a Sigmund Freud, de Jean-Paul Sartre a John Harvey Kellogg (o inventor dos sucrilhos), da fábula da bela adormecida a deusas hindus, de livros de biologia ao rapper Dogge Doggelito, A origem do mundo esquadrinha nossa cultura e vai até o epicentro da construção social do sexo.
Em mãos, não temos uma narrativa gráfica cujas virtudes sejam visuais e, por meio de seus argumentos, fortemente apoiada por uma extensa e especializada bibliografia. Talvez tenhamos uma obra que a autora esforça mais em seu raciocínio, causando um resultado gráfico não apreciado por amantes da nona arte.

O texto, que ocupa quadros e vinhetas inteiras, é o protagonista, com um toque de humor que torna todo o discurso mais digerível. Há limitaçoes, mas Strömquist nos leva a uma jornada através da história na qual prova como o homem (isto é, o ser masculino) repetidamente usou seu poder, primeiro da religião, e logo, escoltado pela ciência, para intervir no corpo da mulher e dizer o que devia ou não sentir.
Para Liv, culpabilizar o prazer é um dos mais efetivos instrumentos de dominação — graças à culpa, a maçã é venenosa e o paraíso mantém seus portões fechados. Uma crítica hilária, libertadora e instrutiva sobre o sexo feminino.
Uma obra interessante, apesar de sua densidade, que atinge seu objetivo: fazer-nos refletir sobre a situação de desequilíbrio em que as mulheres vivem, e em que todos nós somos responsáveis para que essa situação mude. Cheio de ironias, mas nada exagerado, recomendo a leitura.

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