Deadwood Dick: Nero come la notte, rosso come il sangue, o título original desse fumetto da Bonelli, publicado por aqui pela Panini traz a história de Nat Love, um caubói afro-americano que, para escapar de um linchamento, foge e decide se alistar voluntariamente entre os soldados negros da Nona Cavalaria do Exército dos Estados Unidos, e que, para perder permanentemente seus rastros, se autoproclama como Deadwood Dick.
A adaptação
A narrativa é baseada nos contos de Joe R. Lansdale, um profílico escritor norte-americano, com um estilo próprio, bem irreverente, explosivo e cheio de ironia. Seu western noir se adapta bem aos quadrinhos, nos levando a um Velho Oeste feio, sujo e malvado, onde a violência reina soberana.
As narrativas de Soldierin, Hide and Horns e Black Hat Jack, são homenagens de Lansdale aos dime novel, publicações que inauguraram a ficção ocidental e que influenciaram muito a escrita do autor. Os três títulos escolhidos contêm algumas das histórias mais marcantes de Nat Love, que mais tarde ficou famoso com o apelido de Deadwood Dick, um pistoleiro negro que realmente existiu e que moveu seus passos imediatamente após o fim da Guerra Civil.
Análise da edição
Um militar negro e um guerreiro índio lutam entre si, enredados em um corpo a corpo sob o sol escaldante do deserto do Texas é a cena que abre o primeiro volume deste personagem. Deadwood Dick: Negro como a Noite, Vermelho como Sangue, tem roteiro de Michele Masiero e arte de Corrado Mastantuono, que apresentam uma visão mais realista do “Velho Oeste” americano, vista através dos olhos de um negro liberto.
Após a cena inicial, o roteirista opta por uma narrativa reversa. Masiero congela repentinamente a luta inicial e por meio do protagonista, narra os acontecimentos de forma desbocada; como uma confissão, dirigindo-se diretamente ao leitor, e passamos a conhecer sua infância e os fatos que o levaram ao corpo dos Soldados Búfalo (como eram chamados os batalhões formados por soldados negros).
Uma boa escolha, bem funcional, o roteiro segue como uma crítica social, numa abordagem politicamente incorreta, tendo o primeiro protagonista negro da Boneli. Em poucas páginas compreendemos os valores e os episódios que forjaram a personagem de Wiliford (o protagonista), outros personagens do título e o cenário em que vivem. Mesmo os muitos diálogos e as muitas legendas, que por vezes atrasam o desenvolvimento da história, continuam satisfatórios, dado o tom irreverente com que são conduzidos
Masiero trabalha bem ao tentar capturar o grande poder visual da escrita de Lansdale e a veia exagerada que distingue sua narrativa, como em alguns personagens arquétipicos ou na representação convincente da atmosfera de ódio e racismo que dominou o Texas após a Guerra Civil, apesar da vitória do norte tivesse sancionado o fim da escravidão.
A arte de Mastantuono é da mais alta qualidade, colocando entre um dos melhores artistas da cena internacional. Fazendo uma pesquisa sobre seu trabalho, parece que não está satisfeito com o seu nível, sempre buscando o próximo passo em seu aprimoramento pessoal.
Um caminho que o levou a resultados que neste álbum atingem uma ampliação: síntese, traço, nível de detalhe, estudo e dinâmica das cenas, modelagem dos rostos, cuidado e respeito pela anatomia, são excelentes.
Interessante como percebemos a vontade do artista, mesmo enjaulado por regras e personagens históricos, ele se inclina a seguir sua inspiração pessoal. Deve-se ressaltar como o designer romano consegue “manchar” seu traço de forma eficaz nesse álbum, para aumentar o realismo e a crueza da história contada.
O desenvolvimento dos painéis/quadrosé mais canônico, construído sobre uma grade bastante padronizada e ordenada, não muito longe da usual Bonelliana. Com os desenhos contornados e nem sempre alinhados ou paralelos, sem esquecer as splash pages, que mesmo ser ser inovadoras, estão bem caracterizada.
Capa da edição da Sergio Bonelli, no selo Audace, voltada ao público adulto e a projetos com conteúdo mais explícito.
Conclusão
Deadwood Dick então apresenta em 144 páginas uma boa primeira edição, embora não seja tão ousada como sugerido pelas duas editoras. O humor ácido, a crueldade da época, algumas cenas de sexo, alguns nus e uma linguagem crua e realista, a verdadeira revolução está no fato do personagem ser o primeiro protagonista negro de um título da Sergio Bonelli Editore. Um bom ritmo narrativo, que tem muitas coisas pra contar, já que saiu já o segundo volume por aqui e já se prepara o terceiro. Recomendado!
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